Depois de oscilar à beira da paridade com o dólar por vários dias, a moeda única da Europa, o euro, caiu abaixo da moeda norte-americana pela primeira vez em duas décadas.
Ele caiu para US$ 0,9998 (cerca de R$ 5,41) em relação ao dólar nesta quarta-feira (13), registrando queda acumulada de quase 12% até agora este ano.
1 euro = 1 dólar pela primeira vez desde 2002
Durante a maior parte de sua história desde seu lançamento em 1999, a moeda única europeia sempre teve valor superior ao dólar. A última vez em que o euro foi negociado abaixo do dólar foi em dezembro de 2002.
Por outro lado, o dólar tem se mostrado bastante resiliente nos últimos meses, impulsionado pela elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) dos EUA. O Banco Central norte-americano elevou as taxas em 75 pontos-base (bps) em junho. Além disso, os temores de uma recessão global levaram cada vez mais investidores a buscar pela segurança do dólar.
De acordo com analistas, após esta queda na quarta-feira, o euro pode cair ainda mais, para chegar a US$ 0,96 (aproximadamente R$ 5,19) ou mesmo US$ 0,90 (cerca de R$ 4,86) contra o pano de fundo da disparada da inflação atingida pelos preços descontrolados do gás.
Preços do gás
A espiral ascendente dos custos de energia já está exercendo um sério impacto no contexto da restrição das entregas de gás da Gazprom à Europa pela tentativa de Bruxelas de "eliminar" a energia russa como parte das sanções sobre sua operação militar especial na Ucrânia. Além disso, a situação foi agravada quando a gigante russa de energia Gazprom cortou significativamente o fornecimento de gás através do gasoduto Nord Stream 1 (Corrente do Norte 1) devido a problemas técnicos na estação de compressão de Portovaya, em meados de junho, onde pelo menos duas unidades compressoras de gás ficaram inoperantes devido a atrasos nas obrigações contratuais de manutenção obrigatória da empresa Siemens.
"Se o gasoduto que está fechado por dez dias não reabrir e tivermos mais racionamento de gás, nessa situação talvez não tenhamos visto os níveis mais fracos do euro", disse o chefe de pesquisa econômica do Barclays, Christian Keller, à Reuters.
No longo prazo, acredita-se que os preços do gás sejam um fator-chave que pode levar o euro a afundar ainda mais.
Embora uma moeda enfraquecida tenha um efeito dominó de tornar as importações mais caras para os países da zona do euro, especialmente para bens cotados em dólares, como petróleo bruto, também pode contribuir para uma inflação ainda mais alta que a atual na zona do euro, que registrou alta de 8,6% em junho.
"Racionamento de gás, estagflação, uma recessão esperada, são todas boas razões para estar em baixa com o euro", disse o macroeconomista-chefe da Equiti Capital em Londres, Stuart Cole, citado por meios de comunicação do Reino Unido.
Ação do BCE
Os desenvolvimentos atuais levantam questões sobre o futuro da política monetária exercida pelo Banco Central Europeu (BCE) na zona do euro em meio a temores de uma recessão iminente. Alguns bancos globais previram uma recessão para a área já no terceiro trimestre. Stuart Cole previu que essas circunstâncias tornariam mais difícil para o BCE aumentar as taxas de juros, com o diferencial das taxas de juros dos EUA crescendo ainda mais.
O euro sofreu mais do que outras moedas desenvolvidas com os recentes choques no preço do gás, segundo a análise do BNP Paribas.
O JPMorgan cortou sua meta de euro-dólar para US$ 0,95 (cerca de R$ 5,13), ressaltando que é "um reflexo de que o mercado se tornará cada vez mais disposto a precificar com maior probabilidade de uma escalada" dos picos "parabólicos" do preço do gás.
Até o final de agosto, o euro pode cair para US$ 0,95, afirmou o estrategista do grupo de serviços financeiros globais Nomura, Jordan Rochester. Ele acrescentou que, se os tanques de armazenamento de gás não forem totalmente reabastecidos até o inverno, a moeda única poderá cair para US$ 0,90 (aproximadamente R$ 4,86).
O BCE já anunciou que está elevando as taxas de juros no próximo dia 21 de julho pela primeira vez desde 2011. Ele sinalizou que pode tentar sustentar o euro por meio de um aperto mais agressivo da política monetária, incluindo um aumento de 50 bps na taxa de juros em setembro, e potencialmente em outubro e dezembro.
A economia global, que começou a sofrer com a inflação crescente ainda em novembro de 2021, durante a recuperação da pandemia de COVID-19, viu seus problemas aumentarem em 2022, por consequência das sanções antirrussas.
Os bancos centrais correram para aumentar as taxas de juros para frear a inflação, mas essas medidas despertaram preocupações entre investidores e economistas de que poderiam provocar um declínio no crescimento e até recessão.