Com tentativas de abandonar os hidrocarbonetos russos e políticas monetárias cada vez mais rígidas, os países da União Europeia (UE) correm o risco de acabar submersos em uma segunda recessão em dois anos. Ao mesmo tempo, a hiperinflação está se aproximando de Kiev, onde uma quantidade sem precedentes de moeda nacional está sendo emitida devido à falta de dinheiro.
Somente no mês de junho foram emitidos mais de 105 bilhões de hryvnias (cerca de R$ 19,1 bilhões) como dívida do Estado. Ao que tudo indica, a Europa parece estar cada vez menos disposta a pagar pelo regime de Zelensky.
Tendo em vista a dificuldade de se chegar a um acordo para a concessão da ajuda de € 9 bilhões (cerca de R$ 49 bilhões) para Kiev, torna-se óbvio que a ajuda de € 750 bilhões (aproximadamente R$ 4,1 trilhões) anunciada para a reconstrução do país será ainda mais difícil de aprovar entre os Estados-membros da UE.
Um dos principais temores expressos na Comissão Europeia são os problemas de corrupção que existem na Ucrânia, de acordo com a Bloomberg.
O problema é agravado pela preocupação dos governos europeus de que nos próximos meses sua população não aceitaria bem o envio de tais quantias de dinheiro, principalmente se a energia se tornar mais escassa e cara, destaca a mídia.
Durante uma das reuniões a portas fechadas, o comissário europeu para a Economia, Paolo Gentiloni, disse aos ministros que seus governos teriam que garantir a força necessária para resistir aos efeitos negativos da crise.
Um dos principais opositores ao envio do restante dos € 9 bilhões acordados em maio é a Alemanha, e sem sua aprovação não haverá mais avanços na matéria, já que os 27 Estados precisam chegar a uma decisão unânime.
Berlim tentou convencer a Comissão Europeia, em princípio, a conceder subsídios à Ucrânia ao invés de empréstimos para aliviar sua dívida. Além disso, quer reduzir o volume de suas responsabilidades, alegando que já concedeu € 1 bilhão de euros em ajuda não reembolsável por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, disse a repórteres em Berlim que "a Alemanha não deve ser usada duas vezes" e acrescentou que "todos devem se envolver da melhor maneira possível".
Este não é o único dinheiro que foi prometido a Kiev, mas que as autoridades europeias temem dar na prática. Outro empréstimo recebido pelo país foi de € 1,5 bilhão (cerca de R$ 8,2 bilhões) do Banco Europeu de Investimento. Os europeus querem garantias muito superiores às normalmente solicitadas pelo banco. Normalmente, o banco exige uma reserva de 9% do valor do empréstimo, mas no caso da Ucrânia o percentual foi aumentado para 70%.
A cada empréstimo a UE coloca em risco a sua própria segurança econômica, portanto, precisa ter garantias de que será capaz de absorver perdas no caso de um default (inadimplência) da Ucrânia, disse funcionário da Comissão Europeia à Bloomberg. Desde o início da operação militar especial, a Ucrânia aumentou sua dívida estatal em nada menos que € 7,6 bilhões (cerca de R$ 41,5 bilhões). Desta forma, seu endividamento não para de crescer à medida que emite ainda mais moeda nacional.
Apenas neste ano, Kiev pagou ao FMI US$ 4 bilhões (aproximadamente R$ 21,6 bilhões) na forma de juros sobre seus empréstimos. Em outras palavras, a Ucrânia poderá ter de pagar mais aos seus parceiros ocidentais do que recebe em ajuda.
O representante do FMI, Jerry Rice, comentou em entrevista coletiva que "a Ucrânia continua pagando suas dívidas e esperamos que isso continue".
Esses riscos, juntamente com a necessidade de lidar com a crise energética e os gastos com defesa que também aumentaram, competem por reservas nacionais esgotadas.