No sábado (16), o presidente dos EUA Joe Biden começou sua viagem ao Oriente Médio, onde se reuniu com vários líderes dos países produtores de petróleo, como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Iraque.
A liderança saudita garantiu a Biden que trabalhará em estreita colaboração com os EUA para estabilizar o mercado global de energia, que tem enfrentado uma alta nos preços sem precedentes. Especialistas, entretanto, alertaram que Riad já atingiu a sua capacidade máxima. Assim, não será capaz de produzir mais petróleo, nem vai querer violar seu acordo com outros membros da OPEP.
Nessas circunstâncias, Washington, que está determinada a resolver a atual crise energética, pode não ter outra opção senão buscar outras parcerias. Ora, o Irã poderia potencialmente fornecer a solução.
Teerã tem estado envolvido em negociações com os EUA e seus aliados ocidentais desde novembro de 2021. Durante essas negociações, o Ocidente insistiu repetidamente que o Irã deveria conceder a possibilidade de supervisionar seu programa nuclear, uma vez que suspeita que estaria sendo usado para fins militares. O Irã, por sua vez, negou essas alegações e exigiu a remoção de todas as sanções que impedem a plena implementação do acordo nuclear como condição prévia para qualquer consenso.
Porém, aponta Marandi, essas demandas não foram cumpridas. Em vez disso, a mídia ocidental alegou que o acordo ficou paralisado devido às exigências iranianas de remover o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica, a principal força militar da nação, da lista americana de organizações terroristas, algo que Washington achou difícil aceitar.
"Essa questão nunca foi uma pré-condição para o Irã. Tem sido usada para justificar a obstrução. O que permanece um problema é o histórico dos Estados Unidos de implementação parcial e violação do Plano Conjunto de Ação Global [JCPOA, na sigla em inglês], algo que o Irã considera inaceitável, bem como a relutância de Washington em remover suas sanções."
Marandi tenta entender o que leva Washington a se comportar desta maneira em um momento em que o mundo está submerso em uma crise energética aguda, após o início da operação militar russa na Ucrânia.
Sugere que parte do problema pode estar na "política interna da América" ou na "posição fraca do Partido Democrata". De qualquer forma, diz o assessor, os EUA não estão em uma posição forte para agir contra o Irã e, portanto, a melhor opção para eles é atingir um acordo e fazer com que o petróleo iraniano flua para o mercado europeu.
Segundo estimativas, o Irã possui reservas comprovadas de 157 bilhões de barris, o que equivale a 10% de todas as reservas de petróleo. Também é equivalente a 13% do que os Estados da OPEP têm a oferecer. Contudo, devido às sanções ocidentais, a Europa tem boicotado o petróleo iraniano desde 2012. Em resposta, Teerã ofereceu seus serviços à Ásia, onde encontrou clientes leais como a China e a Índia.
"Não há escassez de clientes", assegura Marandi. "O Irã está vendendo mais petróleo a um preço de mercado. Por isso, está indo muito bem. Se as sanções fossem removidas, o Irã poderia aumentar a produção", salientou.
Ferozes objeções
No entanto, espera-se que a remoção das sanções enfrente fortes objeções, especialmente no golfo Pérsico, onde alguns acreditam que tal passo só fortaleceria o Irã: permitiria ao país ganhar mais fundos e investi-los em capacidades militares e nucleares. E isso deixa vários Estados árabes preocupados.
Esse medo já levou os países do Golfo a trabalhar em uma possível aliança militar com atores regionais como o Egito, Jordânia e Israel. Embora nenhuma declaração oficial tenha sido anunciada, os relatos sugerem que as partes estão avançando em um acordo conjunto de defesa aérea. Mas o professor Marandi está certo de que o pacto não poderia desafiar o Irã.
"Não há na região um país que possa ser considerado rival do Irã", acredita ele. "Nosso único rival são os Estados Unidos. Israel e Arábia Saudita são pequenos e fracos. O Irã é o país mais desenvolvido em termos militares na Ásia Ocidental", acrescentou.
Durante sua viagem ao Oriente Médio, Biden disse acreditar que uma opção militar não está na mesa e que a diplomacia era o único caminho a seguir. Marandi diz que, na realidade, ele não foi muito diferente de seu antecessor, Donald Trump, que preferiu manter sua política de "pressão máxima".
É por isso que Marandi está enviando uma mensagem clara a Washington de que, se eles realmente querem um acordo, precisam apoiar suas palavras com ações:
"Os EUA não estão em posição de escalar a situação. Se o fizerem, isso só causará uma disparada dos preços e isso ironicamente beneficiaria o Irã. O mais inteligente que eles podem fazer é chegar a um acordo. Estamos preparados para isso".