Panorama internacional

Europa sofre de crise de liderança e conflito ucraniano veio evidenciá-la

A Europa sofre de uma crise de liderança, as suas classes dominantes perderam a noção da realidade e os seus líderes não têm o prestígio dos líderes europeus do passado. O conflito na Ucrânia tem mostrado isso mesmo, afirmaram à Sputnik Thomas Fazi e Srdja Trifkovic, especialistas em Estudos Internacionais.
Sputnik
Na quinta-feira (21), o "peso-pesado" da política italiana Mario Draghi renunciou ao cargo de primeiro-ministro, depois de seus três parceiros da coalizão terem boicotado a moção de confiança. Recentemente, no Reino Unido, o Partido Conservador exerceu pressão sobre o primeiro-ministro Boris Johnson, incluindo os membros do seu próprio Gabinete, forçando-o a abandonar a liderança do partido e a deixar o cargo de premiê devido aos numerosos escândalos que marcaram os últimos meses de Johnson no poder.
Ao mesmo tempo, o líder de mais uma grande potência europeia, o presidente francês Emmanuel Macron, não conseguiu assegurar a maioria na câmara baixa do parlamento do país, visto que o Reagrupamento Nacional (partido de extrema direita, liderado por Marine Le Pen) e a coalizão de esquerda NUPES (Nova União Popular Ecológica e Social) alcançaram resultados impressionantes. Esta reviravolta afetou a agenda de Macron, já que ele agora não pode aprovar facilmente projetos de lei no legislativo e tem que trabalhar com uma oposição pouco cooperante.
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De acordo com o escritor e pesquisador Thomas Fazi, tal estado de coisas não é mais do que uma "crise orgânica" do sistema econômico e político neoliberal que atualmente está estabelecido na Europa. Há quem diga que um dos aspetos chave do sistema é a expulsão deliberada das massas do processo de tomada de decisões.

"Como resultado, ao longo de muitos anos as nossas elites políticas têm se tornado cada vez mais dominadas pelas grandes empresas e, ao mesmo tempo, mais isoladas das necessidades e interesses dos trabalhadores e da economia em geral. Na verdade, certos políticos ocidentais não só não passam de fantoches nas mãos da elite política no poder – são representantes diretos de tais elites, que é o caso de Emmanuel Macron e Mario Draghi", disse o analista.

Segundo Fazi, as elites nacionais europeias também estão acostumadas a entregar as suas responsabilidades à União Europeia, o que antes os livrava da tomada de decisões econômicas e políticas importantes, enquanto as decisões eram de fato tomadas em Bruxelas e Frankfurt. Tudo isso levou ao aparecimento de uma classe política distanciada da realidade, "patologicamente infantil", que pode sair impune de tudo por causa da apatia dos cidadãos.
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"Tudo isso se tornou evidente após o início do conflito na Ucrânia, quando os líderes europeus tomaram toda uma série de decisões suicidas, apropriadamente chamados por muitos de 'auto-sanções', que lançaram milhões de pessoas na pobreza e arruinaram as indústrias europeias", Fazi salientou.
Srdja Trifkovic, editor de uma revista ultraconservadora, fez um paralelo entre a atual situação geopolítica e a Crise dos Mísseis de Cuba de 1962, junto com os anos seguintes da Guerra Fria, quando na França estavam no poder tais presidentes como Charles de Gaulle, Georges Pompidou, Valéry Giscard d'Estaing e François Mitterrand. Ele também mencionou os chanceleres alemães Willy Brandt e Helmut Schmidt.
"Hoje já não há ninguém do seu calibre. Temos personagens de quadrinhos, como a semiletrada Annalena Baerbock ao leme do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
O analista considera que a Europa podia se recuperar seguindo o exemplo do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, que "luta pela manutenção da identidade nacional, das suas tradições, dos seus institutos sociais e estatais, contra a máquina agressiva e totalitária de Bruxelas".
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