A FAB celebrou ontem (26), na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, a chegada de seu primeiro KC-30, parte de um processo licitatório que prevê a entrega de dois modelos A330-200. Essas aeronaves devem suprir carências operacionais em ações estratégicas, como no reabastecimento em voo (REVO) e no Transporte Aéreo Logístico.
Antes de pousar no Brasil, a aeronave passou pela Irlanda, onde ganhou a tradicional cor cinza dos aviões da FAB. Para o tenente-coronel Samuel de Souza Ciqueira, a Força Aérea Brasileira realiza um salto operacional extraordinário na aviação de transporte e garante ainda mais efetivamente a manutenção da soberania sobre o espaço aéreo e a integração do território nacional.
Em conversa com a Sputnik Brasil, o professor Marcos José Barbieri Ferreira, da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista no setor de defesa, analisou a novidade e explicou que existe uma diferença importante entre o KC-30 e o KC-390, da empresa Embraer, aeronave que, segundo ele, é o orgulho da FAB.
Aeronave Airbus A330 da FAB, renomeada KC-30
© Foto / Força Aérea Brasileira
Segundo Barbieri Ferreira, ambos os aviões (KC-30 e KC-390) servem "para transporte e reabastecimento de outras aeronaves, como os caças Gripen da FAB". O que difere um do outro, explicou ele, é o sentido "estratégico, pois o KC-30 tem alcance de voo mais longo e uma capacidade maior de transporte".
Ele explicou que o A330-200, antes de virar KC-30, era uma aeronave de voo transcontinental, capaz de voar quase 14 mil km. "Você a adapta para transportar soldados, quase 300 homens e mulheres, ou mesmo cargas. E mais do que isso: é possível levar grande quantidade de combustível para fazer reabastecimento de aeronaves de ataque ou mesmo de transporte", comentou.
O especialista enfatizou que transformar aeronaves comerciais em militares é uma prática comum em outros exércitos. "O mundo inteiro faz isso, inclusive EUA, Rússia e China", disse, acrescentando que o transporte de presidentes de diversos países da Europa, ou mesmo da rainha do Reino Unido, é feito com frequência por essa aeronave.
Descrevendo a importância do KC-30, Barbieri Ferreira relembrou que o Brasil, a partir das definições estratégicas da FAB, sempre teve aeronaves de abastecimento, "como o histórico Hércules, que será substituído pelo KC-390 da Embraer" nos próximos anos. Essa aeronave, segundo ele, é a "joia da FAB", principalmente por ser produzida por um empresa brasileira.
Nesse sentido, ele apontou que o KC-30 não chega para substituir o KC-390, mas para atenuar uma deficiência da FAB envolvendo voos longos.
"Esse é um avião de resgate e ideal para missões especiais, como o resgate de brasileiros em situações de conflito, como nos confrontos na Ucrânia, ou de urgência, como ao longo da pandemia de COVID-19."
O KC-30 se caracteriza por ser capaz de transportar passageiros, em uma cabine comercial convencional, e um grande volume de carga nos porões, em voos de longo curso. A mesma cabine pode ser reconfigurada rapidamente para cumprir missões de evacuação aeromédica, ou seja, moldar-se de acordo com as necessidades operacionais, com grande flexibilidade.
O ponto-chave para se entender esse negócio, para Barbieri, é que a FAB está "extinguindo carências antigas". Ele entende que, para o Brasil, o ideal seria mais duas aeronaves, mas compreende que faltam recursos e orçamento: "No mundo ideal, quatro seriam necessárias". Nesse sentido, ele defendeu os principais projetos da FAB neste momento: o KC-390 e o caça Gripen.
"De maneira geral, [a FAB] está bem estruturada. Esses dois projetos são muito bons e importantes para os interesses da FAB. Poderia ter mais aeronaves, aviões de treinamento, patrulha marítima, mais veículos aéreos autônomos. Mas é preciso dizer que os recursos estão sendo otimizados e concentrados em projetos estratégicos. O caça nos dá o combate, e o KC-390, o transporte aéreo", declarou.