Em seu discurso na Décima Conferência de Revisão do Tratado sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares, iniciada nesta segunda-feira (1º), o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou que a humanidade está a um erro de cálculo de sofrer aniquilação nuclear.
"Tivemos uma sorte extraordinária até agora. Mas a sorte não é estratégia nem escudo para impedir que as tensões geopolíticas se degenerem em conflito nuclear", disse Guterres.
Guterres alertou que o mundo atravessa um período de forte estresse desencadeado pela devastação econômica e humanitária gerada pela pandemia de COVID-19. Ele citou ainda a crise climática, as profundas desigualdades econômicas e as violações aos direitos humanos.
Ele acrescentou que o conflito envolvendo Rússia e Ucrânia elevou as tensões geopolíticas a níveis não observados desde a crise dos mísseis, em 1962, na Guerra Fria. Na época, a população mundial, polarizada entre Estados Unidos e União Soviética, acreditou estar à beira de um conflito nuclear, após a descoberta de que uma base de mísseis soviéticos estava sendo construída em Cuba.
"Em todo o mundo estão armazenadas cerca de 13 mil armas nucleares, e isso em um momento em que os riscos de proliferação aumentam e as salvaguardas para impedir essa escalada diminuem", disse Guterres.
Na conferência, o vice-ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Mykola Tochitsky, aproveitou para solicitar a criação de uma zona de exclusão aérea sobre as usinas nucleares do país.
"Ações conjuntas resolutas são necessárias para se evitar uma catástrofe nuclear em nível global. Pedimos que a organização feche o céu sobre as usinas nucleares da Ucrânia e forneça sistemas de defesa antimísseis", disse Tochitsky.
A conferência ocorre na sede da ONU, em Nova York, e segue até o dia 26 deste mês. Ela ocorre após ser adiada por dois anos consecutivos, devido à pandemia. O Tratado sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) é assinado por 191 países e entrou em vigor em 1970.