A Embraer assinou um memorando de entendimento com a BAE Systems, gigante do Reino Unido que atua no mercado de defesa. A intenção das companhias é criar uma joint venture para desenvolver uma variante do carro voador, os veículos elétricos de decolagem e aterrissagem vertical (eVTOL, na sigla em inglês), voltada especialmente para o segmento de defesa.
No último mês, o Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior, comandante da Aeronáutica, recebeu o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, e reafirmou a parceria com a empresa. Carlos de Almeida Baptista Junior ressaltou que é impensável se ter uma Força Aérea sem uma indústria aeronáutica forte, e é por isso que o Brasil estuda adotar carros voadores para a sua frota.
A verdade é que a parceria entre a Embraer e a Força Aérea Brasileira no desenvolvimento de tecnologias e de novos negócios rendeu bons frutos para o país, principalmente se tendo em vista os avanços com as aeronaves Super Tucano e KC-390 Millennium, uma espécie de joia da FAB. Com a Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer, anunciando recentemente a assinatura de um documento preliminar de compra de até 150 eVTOLs da BAE Systems, existe a esperança de que novas tecnologias sejam apresentadas pela FAB nos próximos anos.
"As equipes da Embraer e da BAE Systems continuarão trabalhando juntas para explorar como a aeronave, projetada para o mercado de mobilidade urbana, pode ser uma variante de defesa com baixos custos operacionais, sustentável e adaptável", disse Jackson Schneider, presidente da Embraer Defesa & Segurança, divisão da fabricante, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Marcos José Barbieri Ferreira, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista no setor de defesa, explicou à Sputnik Brasil que o eVTOL surge por dois motivos.
O primeiro é o aumento da demanda urbana por esses veículos, e o segundo é o desenvolvimento de tecnologias que permitem a construção desses carros voadores, "sobretudo no âmbito dos novos motores elétricos, baterias de alta capacidade de carga e materiais que permitem que o veículo seja consideravelmente mais leve do que se pensava há uns anos", disse Barbieri Ferreira.
Ele explica que, da mesma maneira que surgiram os drones, "desde os mais simples até os mais sofisticados, a tecnologia que permite a construção dos carros voadores é uma realidade no mundo". Ele citou como exemplo o EHang, da China, lançado em 2016 e considerado o primeiro veículo aéreo autônomo (AAV, na sigla em inglês) capaz de transportar passageiros.
Veículo não tripulado voador EHang 184
© AP Photo / Jon Gambrell
Barbieri Ferreira acredita que o veículo da Embraer deve ser utilizado em áreas urbanas.
"Ele é capaz de voar por 30 ou 40 minutos. Embora não seja um helicóptero, que tem alta capacidade de carga e de transporte, esse eVTOL é leve e deve transportar entre três e quatro passageiros", afirmou.
Segundo o especialista, ele poderá ser utilizado para "deslocamento na cidade, mesmo como um serviço de transporte público, mas esse não é exclusivamente o seu objetivo", que pode variar dependendo da missão. Ao falar sobre o projeto, ele relembrou que, em 2016, a Embraer firmou um projeto com a Uber para o desenvolvimento de carros voadores para o aplicativo.
"Como o projeto foi deixado de lado, a Embraer decidiu liderar as pesquisas de desenvolvimento e buscar parceiros internacionais. A Embraer fez um acordo com essa empresa britânica [BAE Systems], que é gigante, uma das maiores do mundo, muito forte na área naval, e a empresa brasileira quer pensar nesse produto para o setor de defesa", disse.
Embora ainda não esteja claro como os carros voadores serão utilizados na área de defesa, o pesquisador enfatiza que o importante é que a tecnologia possa ser dominada para aplicação em áreas distintas, seja militar ou civil.
"Para a Embraer é ótimo, porque alavanca sua produção e pesquisa para outras áreas. A Embraer tem interesse em adaptar esse produto e usá-lo no segmento militar."
Questionado sobre possíveis usos para o carro voador, ele explicou que, embora a resposta esteja no campo da especulação, é possível pensar em "soluções para transporte, evacuação aeromédica ou mesmo observação e reconhecimento. Há uma ampla gama de utilidades que podem ser desenvolvidas a partir desse projeto".
"É um passo para o futuro. E a vantagem é que está sendo feito aqui. É como se fosse um avião cargueiro, cuja tecnologia pode se desenvolver e abrir outros caminhos para as demandas do setor de defesa no futuro", comentou.