De acordo com a Bloomberg, milhares de chineses foram atraídos por Portugal, na última década, graças ao programa de visto de investidor para quem tem € 350 mil (cerca de R$ 1,8 milhão) sobrando e deseja escapar para um clima ameno na União Europeia (UE).
A consultoria de migração de investimentos Henley & Partners estima que 10.000 residentes de alto patrimônio líquido estão buscando retirar US$ 48 bilhões (cerca de R$ 253 bilhões) da China este ano.
Mas, ao que tudo indica, os impedimentos estão aumentando por parte dos governos de ambos os lados. A UE tem deixado cada vez mais claro seu desdém pelos programas de residência e cidadania por investimento — atualmente oferecidos por dez Estados-membros. No caso de Portugal, o processo de candidatura exige uma entrevista pessoal, algo que as restrições de viagens da China por conta de sua política de combate à COVID-19 tornaram praticamente impossível.
Pela primeira vez, 2022 vai ser o ano em que os investidores chineses não vão ser o maior grupo a obter os vistos dourados de Portugal.
"Muitos investidores chineses fizeram investimentos segundo o programa de vistos dourados e começaram a trabalhar com o país", disse o secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-China, Bernardo Mendia.
De acordo com Mendia, o imobiliário português era um "mercado morto" antes da política do governo da China encorajar as empresas a procurarem investimentos no estrangeiro na década de 2010. "Ultimamente, a direção da política mudou."
Os chamados vistos dourados de Portugal foram concebidos há uma década como parte de um esforço geral para recuperar as contas públicas após um resgate da UE em 2011. Outra parte do plano era a privatização de empresas estatais, o que resultou na maior onda de investimento chinês de todos os tempos no país.
Com o lançamento do programa e o "boom" de interesse por parte de investidores, os números oficiais mostram que Portugal concedeu cerca de 10.000 vistos de investimento desde 2012, principalmente para cidadãos chineses.
De acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de Portugal e do Investment Migration Insider (site de rastreamento de residência e cidadania), este ano, no entanto, apenas 16% dos candidatos aprovados são chineses, um número muito abaixo dos 81% em 2014.
A partir deste ano, Portugal restringiu o programa de vistos dourados em Lisboa, Porto e áreas costeiras de alta densidade, empurrando o investimento para o interior menos desenvolvido, o que os proponentes veem como uma oportunidade não realizada.
Para o sócio-gerente da Alpac Capital, Luís Santos, que estudou o investimento da China em Portugal, poucos questionaram inicialmente o impulso de investimento da China, que foi entendido como parte de "uma venda a qualquer preço lançada por um governo desesperado em um país falido". Mas atraiu mais atenção à medida que os EUA veem cada vez mais a China como um concorrente.
"Se você depender de um país, será dependente", disse Santos, resumindo a abordagem de Portugal para alavancar relacionamentos com superpotências concorrentes. "Se você confiar em vários, você não será."