Baseado em 'princípio de boa-fé', rastreio do ouro no Brasil é falho
"O ouro hoje é extraído de determinados locais, por exemplo, da Amazônia, e precisa ser vendido por uma empresa aqui chamada DTVM [Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários], instituições financeiras que tratam dessa primeira compra do ouro. Essa primeira compra é realizada em um formulário de papel onde se declara a origem e qual o processo minerário a que esse ouro se refere", explica Siqueira-Gay à Sputnik Brasil.
"Como a primeira venda desse ouro é realizada em um formulário de papel e o processo minerário declarado não é verificado, não há como atestar a origem desse ouro e certificar que esse ouro não veio de uma origem duvidosa, uma vez que esse processo é autodeclaratório por parte do primeiro vendedor e baseado na boa-fé desses compradores. As DTVMs ficam resguardadas pelo princípio da boa-fé ao guardarem esses documentos de papel", afirma.
Falta de controle gera problemas ambientais e prejudica povos indígenas
"Hoje o que nós vemos são os impactos das atividades de extração de ouro, que acontece dentro de terras indígenas e unidades de conservação. Esses impactos são uma grande alteração da qualidade das águas e alteração da biota aquática. Há uma turbidez muito maior nas águas, o que nós conseguimos perceber pelas imagens de satélite. Nós vemos um considerável desmatamento das áreas de ocupação dessas atividades, e, principalmente, essas atividades afetam a qualidade de vida das populações locais", salienta.
"Nós vimos um crescente aumento das atividades de mineração no Brasil nos últimos anos, especialmente na Amazônia. Hoje nós sabemos que a área garimpada, a área referente à extração de garimpo, é maior do que a área de mineração industrial, o que nos mostra que essas atividades, hoje, são muito preponderantes no nosso país", aponta a especialista.
"A gente vê algumas propostas de simplificação do licenciamento ambiental que vão justamente no sentido contrário. Em vez de avaliar de forma sistemática os impactos dessas atividades, essas propostas visam simplificar os processos de aprovação de novos projetos. Isso dá uma conjuntura para esse aumento recente dessas atividades no Brasil", avalia.
'Governo faz o que prometeu', diz ativista
"O garimpo necessita de uma área gigantesca para poder extrair o ouro e destrói uma vegetação que não se recupera mais, o que atinge também a alimentação dos povos. Muitos povos dependem da floresta para se alimentar", afirma Silva em entrevista à Sputnik Brasil, acrescentando que esses territórios são um direito constitucional dos povos indígenas.
Proposta visa rastrear o ouro e reduzir impactos
"É uma proposta que busca legalizar toda a cadeia, a partir de um sistema de monitoramento digital de blockchain para armazenar as informações de forma digital. Então, notas fiscais eletrônicas, guias de transporte e custódia do ouro, que tratariam de acompanhar todas as transações", explica.
"Dessa forma é possível monitorar onde esse ouro está sendo comercializado, de onde ele veio, e comprovar essa origem e essa rastreabilidade", conclui.