Na sexta-feira (5), o governo de Israel deu início a uma operação militar com ataques aéreos contra a Faixa de Gaza. Segundo o governo israelense, a ação é uma resposta "às ameaças representadas pela Jihad Islâmica na Palestina" devido à prisão de uma liderança na Cisjordânia. Já neste sábado (6), a ala militar da Jihad Islâmica na Palestina afirmou que disparou ataques de retaliação com mais de 100 foguetes contra Israel.
Em nota, a Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), ressaltou que os ataques israelenses já deixaram pelo menos 15 mortos e 125 feridos, além de danos à infraestrutura da região. A entidade fez um apelo à comunidade internacional para barrar as ações de Israel contra Gaza, acusando Tel Aviv de gerir um Apartheid na região.
Uma salva de foguetes é disparada da Cidade de Gaza em direção a Israel, em 6 de agosto de 2022
© AP Photo / Mohammed Abed
Apesar da mobilização de pelo menos 25 mil soldados israelenses pelo governo do país, o professor Bruno Beaklini, cientista político e professor de relações internacionais, acredita que Israel não deve lançar uma operação de larga escala. Para Beaklini, a tendência é que as ações militares de Israel contra a Palestina continuem focadas na guerra aérea e que em seguida mais recursos voltados à artilharia antiaérea sejam solicitados pelos israelenses.
"É, entre aspas, 'mais barato' para a entidade sionista ficar fazendo seguidos bombardeios aéreos, até porque se a defesa antiaérea de Israel, o Domo de Ferro, tem alguma fragilidade, automaticamente os Estados Unidos colocam US$ 1 bilhão [cerca de R$ 5,16 bilhões], US$ 1,5 bilhão [cerca de R$ 7,75 bilhões] ali dentro", avalia o pesquisador em entrevista à Sputnik Brasil.
O especialista ressalta que essa postura de manutenção de investimentos na defesa de Israel é um compromisso do governo do presidente norte-americano, Joe Biden, e dos Estados Unidos. "A intervenção dos EUA é a de sempre", afirma, acrescentando que há um poderoso lobby político nesse sentido em Washington.
Parentes carregam o corpo de Noor al-Azubaidi, palestino morto durante um ataque israelense contra Gaza, 6 de agosto de 2022
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Apesar de 'motor próprio', escalada pode ter ligação com contexto global
Nos últimos meses, houve um recrudescimento de diversas tensões regionais ao redor do mundo. Além do conflito na Ucrânia, as tensões em torno de Taiwan e Kosovo também cresceram rapidamente em meio ao embate global entre EUA, China e Rússia.
Apesar do contexto mundial, Beaklini destaca que o conflito entre Palestina e Israel já atravessou diversas fases da política mundial e tem um ritmo próprio. Segundo ele, a tensão regional é puxada principalmente pelos interesses israelenses e anglo-saxões no Oriente Médio. Entretanto, o pesquisador aponta que essas mesmas disputas regionais podem estar ligadas a questões mais amplas em determinadas situações.
"As tensões do grande Oriente Médio sempre serão um recurso para mobilizar e disponibilizar forças por parte do Ocidente, do qual o Estado de Israel é partícipe como cliente de armas dos EUA", explica.
Hossein Salami, comandante do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), fala em cerimônia fúnebre em Teerã, Irã, 4 de agosto de 2022
© AFP 2023
'Tensão permanente' com o Irã é aspecto relevante
A eventual participação do Irã em caso de escalada do conflito contra Israel também é motivo de preocupação, explica o pesquisador. Segundo ele, há uma tensão permanente entre os dois países e Teerã mantém postura de defesa de seus aliados na região.
Na sexta-feira (5), o iraniano Hossein Salami, comandante do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), ameaçou atacar Israel em caso de agressão contra o Líbano, um exemplo de uma contínua retórica de conflito entre Teerã e Tel Aviv.
"A resposta permanente [do Irã] se dá em todos os níveis, Israel tem como hábito o assassinato de altos oficiais iranianos, incluindo cientistas. Então, sempre vai haver uma resposta, caso haja uma agressão", lembra Beaklini
O papel do Egito como mediador do conflito
Diante da escalada das tensões entre Israel e Palestina, o Egito se ofereceu para mediar a situação. O governo egípcio já abriu diálogo com as autoridades dos dois países e busca reduzir as hostilidades. Para Beaklini, a mediação do Egito pode ser positiva para aliviar as restrições à Palestina.
"A intervenção do Egito seria positiva no seguinte sentido: o Egito faz uma negociação para que pare o bombardeio, mas libera o acesso e a fronteira do Sinai para a entrada de alimentos, medicamentos e para o livre trânsito de palestinos na região. Porque o Egito já fez a intermediação, em maio de 2021", afirma.
Da esquerda para a direita: Asaad bin Tariq al-Said, vice-primeiro-ministro de Relações Internacionais e Cooperação de Omã e representante especial do sultão; xeque Mohamed bin Zayed al-Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos; Abdel Fattah al-Sisi, presidente do Egito; Hamad bin Isa bin Salman al-Khalifa, rei do Bahrein; e Joe Biden, presidente dos EUA
© AFP 2023 / Al-Mansoori Rashed / Ministério de Relações Presidenciais dos Emirados Árabes Unidos / Handout
Apesar disso, o pesquisador aponta que o Egito também é um cliente do EUA e recebe ajuda militar de Washington em termos financeiros. Por isso, para Beaklini, o governo do Egito precisa ter uma posição mais clara em relação à Palestina e contribuir de forma mais assertiva para a resolução do conflito.
"Então, se o Egito realmente quisesse ter uma agenda mais propositiva na região, ele tinha que liberar o acesso a Gaza, diminuir o bloqueio ou ajudar também na entrada de alimentos, medicamentos e outros bens essenciais em Gaza", aponta.