As empresas europeias não estão abandonando a China, apesar da deterioração das relações políticas entre os dois lados e os lockdowns contra a COVID-19 no país asiático, escreveu na quarta-feira (17) a agência norte-americana Bloomberg.
A mídia citou dados do centro de análise Rhodium Group, que indicam um aumento de 15% no investimento da União Europeia (UE) na China. O valor das exportações europeias no período de janeiro a junho deste ano também se manteve estável em relação ao primeiro semestre de 2021.
As relações entre a China e a UE pioraram em 2021 depois que Bruxelas cancelou um acordo de comércio mútuo, após Pequim recusar condenar a operação militar especial da Rússia. No entanto, segundo os analistas da Bloomberg, as tensões políticas podem estar dando o efeito oposto ao esperado, fazendo as empresas reforçar as cadeias de produção locais.
"Ainda não estamos vendo nenhum grande êxodo e as empresas ainda estão trabalhando para concluir projetos já planejados. Pelo menos para as empresas europeias, são principalmente os grandes atores que já têm interesses significativos na China que continuam seus investimentos planejados, embora com alguns atrasos" devido aos lockdowns para conter as infecções da COVID-19, disse Mark Witzke, analista de pesquisa do Rhodium Group.
De acordo com a Bloomberg, o mercado chinês tem sido um "salvador" para os balanços patrimoniais de muitas empresas, particularmente após o lockdown no início de 2020 ter resultado em uma rápida redução de casos e a consequente reabertura levar a um crescimento econômico de 8,1% em 2021.
Como exemplos, a empresa alemã BMW AG adquiriu no primeiro trimestre uma participação de controle em sua joint venture de fabricação de automóveis, a Audi alemã está construindo sua primeira fábrica de veículos elétricos no país e a Airbus SE europeia está consolidando sua posição no mercado chinês graças a uma linha de montagem final local que a ajudou a receber uma encomenda no valor de mais de US$ 37 bilhões (R$ 191,15 bilhões) no mês passado, relata a agência.
"Dada a situação muito difícil na Europa, duvido que as empresas europeias deixarão a China em breve. As questões geopolíticas podem mudar o equilíbrio contra uma maior expansão na China, mas isso levará tempo, dado o quanto piorou a situação global", disse Alicia Garcia Herrero, economista-chefe para a Ásia-Pacífico do banco francês Natixis.
A Câmara de Comércio da União Europeia na China publicou em maio uma pesquisa. Ela revelou que apenas 7% das empresas inquiridas disseram que o conflito russo-ucraniano as fez cogitar transferir investimentos para fora da China, enquanto 10% disseram mesmo que a operação especial tornou a China mais atraente como um destino de investimento. No entanto, quase uma em cada quatro também apontou que as restrições anti-coronavírus na China os fizeram repensar alguns investimentos.