Nesta quinta-feira (25), o senador e vice-presidente do Comitê de Relações Exteriores do Conselho da Duma, o parlamento russo, Andrei Klimov, comandou conferência de imprensa a jornalistas brasileiros para debater a crise ucraniana.
O senador declarou que a preocupação de Moscou com atividades antirrussas na Ucrânia "não começou hoje, nem ontem, mas em 2008", quando a União Europeia lançou seu programa de parceria com países do Leste.
"Na época, a Rússia manifestou sua preocupação com esse programa e alertamos que ele poderia levar à eclosão de uma guerra civil na Ucrânia", revelou Klimov. "Nós respeitamos o direito dos nossos vizinhos de entrarem nessa parceria, mas também tínhamos o direito de nos manifestar."
O programa da União Europeia, lançado por iniciativa das chancelarias de Polônia e Suécia, abarca países como Armênia, Azerbaijão, Belarus, Geórgia, Moldávia e Ucrânia.
Senador Andrei Klimov, vice-presidente do Comitê de Relações Exteriores do Conselho da Duma (foto de arquivo)
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/ O senador relata que, posteriormente, governos ucranianos moderados conduziram políticas que balanceavam as relações com Moscou e com a União Europeia. A partir de 2012, iniciativas como a formação da União Econômica Euroasiática suscitaram interesse em Kiev.
"A União Euroasiática foi uma iniciativa do governo do Cazaquistão, que contou com apoio da Rússia", recordou Klimov. "Mas a doutrina do então presidente democrata [dos EUA], Barack Obama, foi de evitar a qualquer preço que a Ucrânia aderisse a esse projeto."
O senador relata que os EUA passaram a investir recursos vultuosos para aumentar sua influência política na Ucrânia. Dados oficiais norte-americanos apontam para gastos de pelo menos US$ 4 bilhões (cerca de R$ 20 bilhões), "não para a construção de universidades ou infraestrutura, mas para atingir os seus objetivos políticos".
O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, faz uma palestra.
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"Quando eclodiu os protestos em Maidan, os EUA já estavam há seis anos preparando o terreno no país. E nossa comissão tem várias provas sobre os métodos utilizados para que isso prosperasse", disse o senador.
Segundo o senador, o Comitê de Relações Exteriores russa obteve dados que comprovam que os EUA repassaram fundos a membros do legislativo ucraniano para garantirem o sucesso do golpe de Estado que se sucedeu aos protestos na Praça Maidan, em 2014.
"Temos dados que mostram que, no auge dos acontecimentos em Maidan, o navio norte-americano Hercules estava atracado na costa do país, com uma quantidade relevante de recursos que eram distribuídos aos deputados ucranianos através da Embaixada dos EUA. Os nossos dados apontam que os deputados recebiam de US$ 1 milhão [R$ 5,11 milhões] a US$ 3 milhões de dólares [R$ 15,3 milhões]", revelou o senador. "Foi assim que Maidan foi feita."
Após 2014, o senador relata que a Ucrânia viveu uma guerra civil de fato, opondo cidadãos do leste, falantes da língua russa, aos cidadãos do oeste, afeitos a uma aliança com os EUA e a União Europeia.
Líderes russos e europeus empreenderam tentativas de solucionar o conflito civil, inclusive assinando os Acordos de Minsk, em 2014 e 2015. No entanto, o senador lamentou que sucessivos governos ucranianos se recusaram a implementar os termos do tratado.
Garoto vestido com uniforme do Exército Vermelho em meio a milhares de nomes de soldados mortos na Grande Guerra pela Pátria, em um memorial dentro de um museu em Kiev, na Ucrânia, em 9 de maio de 2011
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"Nesse contexto temos as declarações do [presidente ucraniano Vladimir] Zelensky, que declarou que não cumpriria os acordos de Minsk e que a Ucrânia considerava a possibilidade de adquirir armamento atômico", notou o senador. "Nesse momento, a Rússia decidiu defender seu território e seus aliados nas repúblicas de Donetsk e Lugansk."
Futuro do leste da Ucrânia
Em fevereiro deste ano, a Rússia reconheceu a independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que para Moscou, gozam do status de Estados nacionais. No entanto, líderes dessas regiões manifestaram interesse em organizar referendos para a eventual reunificação dessas regiões à Rússia. Regiões como Kherson e o Zaporozhie também manifestaram o interesse de realizar referendos similares.
O senador notou que cada território deve decidir de forma independente acerca de seu futuro status político: "Não é Moscou que vai definir quais territórios vão se unir à Rússia."
No entanto, entes federados da Rússia se mobilizam para reconstruir regiões do leste da Ucrânia, revelou o senador: a sua região de origem, Perm, se compromete a auxiliar a cidade de Severodonetsk. Já a região de São Petersburgo, envia pessoal para a reconstrução de Mariupol, enquanto Moscou se empenha na reconstrução Donetsk e Lugansk.
Filhos de habitantes evacuados das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk em um ônibus perto da estação ferroviária na cidade de Aprelevka, região de Moscou
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/ Apesar das intervenções regionais, não está claro qual seria o montante de recursos que o Estado russo precisaria investir para viabilizar a reunificação desses territórios.
"A Rússia vem investindo recursos na economia ucraniana mesmo depois de 2014, sem nenhuma contrapartida política", disse o senador à Sputnik Brasil. "Demos gás praticamente de graça […] e até hoje somos um dos principais parceiros econômicos da Ucrânia."
Klimov disse que a Rússia segue fornecendo gás natural e energia elétrica para territórios ucranianos, notando que a energia produzida pela usina nuclear de Zaporozhie é destinada a Kiev.
Reatores da usina nuclear de Zaporozhie
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A usina nuclear de Zaporozhie se encontra sob controle russo, mas é motivo de preocupação internacional em função dos frequentes ataques da artilharia ucraniana.
"A usina está sendo atacada com sistemas de artilharia norte-americanos. Encaramos isso como terrorismo nuclear por parte dos aliados da OTAN e do regime de Kiev", declarou o senador.
O senador relatou que a Rússia aguarda a visita de especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para evitar um cenário de "segunda Fukushima ou Chernobyl" na região, "mas até agora eles não vieram".
Atentados terroristas
No dia 20 de agosto, a jornalista e ativista nacionalista, Daria Dugina, faleceu após uma bomba instalada no seu carro ser detonada remotamente. Nesta quarta-feira (24), o prefeito da cidade de Makeevka, na região de Zaporizhie, Ivan Sushko, faleceu após seu carro explodir, enquanto ele levava sua filha para o berçário.
Essa série de ataques contra cidadãos russos ou pró-Rússia podem indicar uma mudança na estratégia ucraniana no campo de batalha.
"O objetivo do assassinato [da jornalista Daria Dugina] é fazer com que a Rússia responda ao terror com terror", considera o senador. "Mas somos um país civilizado, que respeita o direito internacional e [...] temos profissionalismo para conduzir a desnazificação [da Ucrânia] sem violações."
O senador declarou que as forças de Donetsk e Lugansk, que estão em batalha há oito anos, jamais recorreram a esses métodos para atingir seus objetivos políticos e militares.
Vice-presidente da câmara baixa do Parlamento russo Sergei Neverov (segundo à esquerda) no funeral da jornalista e cientista política Daria Dugina, em 23 de agosto de 2022
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"Durante oito anos de guerra civil, as pessoas que Kiev chama de terroristas não realizaram explosões em Kiev, em Lvov, ou em nenhum outro lugar. E isso não se deve ao trabalho da CIA ou da inteligência ucraniana, mas sim à decência dessas pessoas", disse Klimov. "O mesmo não pode ser dito sobre o lado oposto."
Em 22 de agosto, o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, na sigla em russo) apontou a cidadã ucraniana, Natalia Pavlovna Vovk, como responsável por planejar e executar o ataque contra a jornalista Daria Dugina. Nesta quarta-feira (24), o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, negou que Vovk fosse cidadã ucraniana.
"Isso definitivamente não é da nossa responsabilidade. Ela não é cidadã ucraniana e não é do nosso interesse", afirmou Zelensky.
Presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, durante coletiva de imprensa com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel (fora da foto), em Kiev, 20 de abril de 2022
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O senador Klimov, no entanto, está seguro não só da participação ucraniana, mas também da conivência ocidental no atentado.
"Esse atentado contra uma jornalista jovem [...] está ligado diretamente ao serviço de inteligência ucraniana. A perpetradora veio para a Rússia preparar um atentado na companhia da sua filha e saiu daqui pela Estônia, direto para o território da OTAN", concluiu o senador.
Nesta quinta-feira (25), a Embaixada da Rússia em Brasília realizou conferência de imprensa com o senador e vice-presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado russo para debater a crise ucraniana e as relações Brasil-Rússia.