O presidente francês Emmanuel Macron expressou esperança de que a França e a Argélia possam "olhar para o passado com humildade" para estabelecer confiança e cooperação no futuro.
Falando a repórteres logo após chegar à Argélia, na quinta-feira (25), para uma visita de três dias, Macron disse que os países têm "um passado comum complexo e doloroso. E às vezes nos impediu de olhar para o futuro".
O especialista em segurança Akram Kharief, que também é fundador e moderador do site Menadefense, disse à Sputnik que o presidente francês foi à Argélia "com uma lista de exigências" e que tem "poucas coisas a oferecer em troca".
"A visita ocorre em meio a tensões entre os dois países sobre a questão da memória histórica e as declarações do presidente Macron no ano passado de que não havia história da Argélia antes da colonização francesa", disse Kharief.
Segundo ele, as tensões foram exacerbadas pelo "apogeu da crise do gás [na Europa]", o conflito na Ucrânia e a retirada da França de uma operação antiterrorista no Mali.
O especialista acrescentou que a Argélia agora espera "gestos realmente concretos, [...] desculpas" e "compromissos firmes", além de "reparações morais e financeiras" da França.
"Não devemos esquecer que um milhão e meio de argelinos morreram", disse Kharief, em uma aparente referência ao número de mortos na guerra de independência de 1954-1962 que a Argélia travou contra a França colonial. Ele também sugeriu que Macron decidiu visitar a Argélia "para ganhar tempo".
Quanto à região do Sahel e ao Mali, Kharief afirmou que Macron está visitando a Argélia, pois espera "uma cooperação mais estreita com o Exército argelino em relação ao Mali, mas especialmente em relação ao Níger, onde Paris está atualmente tentando aumentar sua influência. A Argélia, por sua vez, tem uma agenda própria, principalmente política, no que diz respeito ao desenvolvimento do Sahel, razão pela qual a França deve se adaptar às demandas da Argélia", concluiu o especialista.
As relações entre Paris e Argel pioraram no ano passado, quando a Argélia chamou de volta seu enviado à França, acusando seu ex-governante colonial de "genocídio" em meio a relatos de que o presidente Emmanuel Macron afirmou que o "sistema político-militar" de Argel reescreveu a história do país para fomentar "ódio em direção à França".
A Argélia conquistou sua independência da França após uma guerra de oito anos, que terminou com a assinatura dos Acordos de Evian de 1962, que concederam à Argélia o direito à autodeterminação. Pouco tempo depois, 99,7% dos argelinos votaram pela independência.
No que diz respeito ao Mali, a França retirou suas tropas do país da África Ocidental no início deste mês, encerrando sua operação antiterrorista Barkhane, iniciada em 2017, e realocando sua sede para o Níger.
O ministro das Forças Armadas da França, Sebastian Lecornu, prometeu que "o compromisso da França com a luta contra o terrorismo no Sahel vai continuar", acrescentando que "este é o sentido da nova agenda que Emmanuel Macron deseja com a África, que será baseada em uma cooperação reforçada com os países da região", como o Níger.
As declarações foram feitas quando o ministro das Relações Exteriores do Mali, Abdoulaye Diop, acusou a França de apoiar grupos terroristas dentro do país, argumentando que aeronaves francesas cruzaram ilegalmente o espaço aéreo maliano mais de 50 vezes desde o início de 2022.
"O governo do Mali tem várias evidências de que essas violações flagrantes do espaço aéreo maliano foram usadas pela França para coletar inteligência em benefício de grupos terroristas que operam no Sahel e lançar armas e munições sobre eles", afirmou Diop em uma carta a do Conselho de Segurança da ONU, cuja cópia foi obtida pelo Sputnik.
A região do Sahel da África está localizada imediatamente ao sul do Saara e inclui partes do Mali, Níger, Mauritânia, Senegal, Guiné, Burkina Faso, Chade, Nigéria e Camarões.