Especialistas ouvidas pela Sputnik Brasil apontam que a redução da TEC, decidida em consenso por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, acabou por fortalecer o bloco econômico, ainda que represente uma liberalização e uma certa flexibilização das regras comerciais originais. Essa foi a primeira grande redução tarifária desde a criação do Mercosul, em 1991.
Regiane Nitsch Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), avalia que a redução reforça a integração dos países na medida em que a decisão do Mercosul se deu de forma conjunta, com uma política comercial unificada.
"O ponto principal é pensar que os países estão fazendo, em comum acordo, uma política comercial comum", enfatizou.
Para Andrea Hoffmann, professora de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), a redução tarifária foi feita "em um momento que o Mercosul passava por uma falta de consenso de para onde caminhar" — uma maior liberalização ou um aprofundamento do modelo anterior.
"Nos últimos meses,
o Mercosul vinha sendo muito criticado. Houve um certo
desalinhamento dos quatro países porque o Mercosul sempre se baseou em uma aliança muito forte
entre Brasil e Argentina e em um certo consenso no modelo de desenvolvimento dos países. Nesses últimos anos, principalmente no governo Jair Bolsonaro, houve
um desalinhamento nas posições, em especial com a chegada de Alberto Fernández na Argentina", destacou Hoffmann.
Hoffmann acredita que essa decisão é importante até para a garantia da sobrevivência do bloco, que vinha sendo colocada em xeque pelas divergências internas.
"Com Bolsonaro e [o ministro da Economia brasileiro]
Paulo Guedes havia uma forte discussão sobre flexibilização do Mercosul.
Essa medida traria quase uma dissolução do Mercosul, com a previsão de liberdade total para os Estados negociarem seus acordos e a possibilidade de uma redução unilateral de tarifas".
Bressan acredita que a redução da TEC "dinamiza o comercio exterior" e beneficia a indústria nacional, apesar de aumentar a concorrência.
A pesquisadora da Unifesp ainda acredita que a negociação em torno da TEC indica que pode haver uma
facilitação em outras negociações, como o disputado tratado de livre comércio com a China e o acordo
Mercosul–União Europeia.
Hoffmann também vê a redução da TEC como um ponto de partida para o fortalecimento da negociação com outros países.