Em discurso feito logo depois do ataque,
o presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse que o discurso de ódio no país quebrou a convivência pacífica. Segundo ele, esse clima hostil
"se difundiu a partir de diferentes espaços políticos, judiciais e midiáticos da sociedade argentina". O mandatário decretou feriado nacional nesta sexta-feira (2) e estimulou manifestações contra a violência política. Grandes atos devem ser realizados em todo o país, e uma greve geral foi convocada para a segunda-feira (5) por movimentos sindicais.
A Argentina acorda. IMPRESSIONANTE
Fabián Restivo, jornalista e analista político argentino, disse à Sputnik Brasil que a
construção do discurso de ódio contra Kirchner e o peronismo "tem mais de dez anos" e
foi gestada por setores da oposição e dos grandes veículos de comunicação.
O comentarista Baby Echecopar é dos criticados por Restivo por disseminar discurso de ódio. Echecopar foi alvo de denúncia na Defensoria Pública.
Baby já disse que Cristina é "o câncer da Argentina", que "se Cristina segue na Argentina, a Argentina termina" e que os peronistas são uma "raça diferente, uma raça de pessoas de m****". Outro jornalista bastante criticado é Eduardo Feinmann.
Restivo, que também é presidente da Fundação Pepe Mujica, destaca que a Argentina viveu uma semana bastante tensa, com declarações dos expoentes do macrismo incitando um acirramento de ânimos.
Desde a apresentação de uma denúncia do Ministério Público pedindo o banimento de Cristina da vida pública,
apoiadores da ex-mandatária têm feito uma série de atos em apoio da peronista. No último sábado (27 de agosto), a oposição — por meio da polícia de Buenos Aires, governada pelo oposicionista Horacio Rodríguez Larreta —
tentou impedir uma marcha em Buenos Aires, o que elevou as tensões.
Mais e mais pessoas vêm ao centro de Buenos Aires
Imagem aérea dos convocados que se aproximam da Praça de Maio em apoio e solidariedade à vice-presidente Cristina Kirchner
Três dias antes do atentado, o deputado e ex-ministro Ricardo López Murphy, da aliança opositora Juntos pela Mudança, publicou uma nota chamada "Ordem ou caos", em que defende a repressão às manifestações peronistas e fala em uma "luta" entre "nós e eles".
"São eles ou nós. É ordem ou é caos. Tempos difíceis estão por vir, pois estamos diante de uma quadrilha de criminosos, incendiários, políticos corruptos e incompetentes. Temos o dever de enfrentá-los sem hesitação, pela liberdade. O único caminho é a lei", escreveu o parlamentar, na segunda-feira (29 de agosto).
Restivo cobra uma posição mais firme do governo Alberto Fernández para coibir a disseminação de discurso de ódio e impedir até mesmo que haja um novo golpe de Estado na Argentina.
"Isso chegou até aqui porque deixaram eles chegarem até aqui. O presidente Fernández poderia ter reposto a Lei de Mídia, derrubada por Macri. E o pior de tudo é que isso [o atentado] não é o resultado final. Eles pode ir além", disse.
Para o analista, a oposição segue buscando um acirramento de ânimos, apesar das declarações contrárias ao atentado.
O jornalista acredita que mais de um milhão de pessoas estarão nas ruas na Argentina nesta sexta-feira (2) em uma grande mobilização contra o atentado político. Imagens que circulam nas redes sociais já indicam uma concentração multitudinária em Buenos Aires.
Restivo avalia que "se aquela pistola tivesse atirado, esse país inteiro estaria pegando fogo". "Não teria como controlar. A população argentina é muito explosiva. Esse país poderia acabar hoje", afirma.