Após a Rússia afirmar que iria fechar o Nord Stream 1 devido a um vazamento, o preço do gás chegou a atingir 272 euros por megawatt/hora (MWh) na sexta-feira (2), quando o mercado financeiro abriu.
Antes do anúncio de Moscou, o gás contratado para outubro nos Países Baixos havia baixado para 256 euros, mas na sexta-feira subiu 23% e, em um ano, já teve um aumento de quase 400% em relação ao ano passado.
O aumento de preços deste ano atingiu os consumidores já em dificuldades e forçou algumas indústrias a parar as produções.
A Europa acusou a Rússia de usar o fornecimento de energia como arma em retaliação às sanções ocidentais impostas a Moscou após o início da operação na Ucrânia. A Rússia diz que o Ocidente lançou uma guerra econômica e que as sanções dificultaram as operações dos oleodutos.
O gasoduto Nord Stream 1, construído sob o mar Báltico conectando a Rússia e a Alemanha, historicamente já forneceu cerca de um terço do gás consumido na Europa, mas atualmente operava com capacidade reduzida em 20% antes de ter os fluxos totalmente interrompidos na semana passada para manutenção.
O gás russo que está sendo fornecido via Ucrânia, outra rota importante, também foi reduzida, deixando a UE em maus lençóis e em busca de meios alternativos para reabastecer as instalações de armazenamento de gás durante o inverno. Vários estados alemães acionaram planos de emergência que podem levar ao racionamento de energia e à elevação das perspectivas de recessão.
"A oferta [de gás] é difícil de encontrar, sendo cada vez mais complexo substituir o gás que vinha da Rússia", disse Jacob Mandel, associado sênior de commodities da Aurora Energy Research, citado pela Reuters.
Os altos custos da energia já forçaram algumas indústrias, incluindo fabricantes de fertilizantes e alumínio, a reduzir a produção e levaram os governos da UE a gastar bilhões de euros em esquemas para ajudar as famílias.
Preparando-se para o pior
Os ministros da Energia dos países da UE devem se reunir em 9 de setembro a fim de discutir opções para controlar o aumento dos preços da energia, incluindo limites de preços de gás e linhas de crédito de emergência para participantes do mercado de energia.
O chanceler alemão Olaf Scholz disse no domingo (4) que a Alemanha, a potência econômica da UE e o maior consumidor de gás da Europa, está se preparando para uma parada total nas entregas de gás provenientes da Rússia.
A Alemanha está na fase dois de um plano de emergência em três estágios. A fase três conta com algum racionamento da indústria.
Em sua corrida pelo fornecimento de gás alternativo, a Alemanha está instalando rapidamente terminais temporários de gás natural liquefeito (GNL) para receber gás dos produtores mais distantes e está planejando construir instalações permanentes de GNL.
A Noruega, um grande produtor europeu de gás, também tem bombeado mais combustível para os mercados europeus. "Por enquanto, há muito espaço para substituir esse gás [russo] por importações de GNL, mas quando o tempo esfriar e a demanda começar a aumentar no inverno na Europa e na Ásia, há um limite de GNL lá fora que a Europa pode importar", disse Mandel.
Mesmo antes da crise da Ucrânia, o mercado global de GNL já registrava dificuldades, pois a economia mundial sugou quase todos os suprimentos na recuperação da pandemia.
Klaus Müeller, presidente da Agência Federal de Redes de Energia da Alemanha (Bundesnetzagentur), disse em agosto que, mesmo que as redes de gás da Alemanha estivessem 100% cheias, elas estariam vazias em dois meses e meio se os fluxos de gás russos fossem completamente interrompidos.
As instalações de armazenamento da Alemanha estão agora cerca de 85% cheias, enquanto as instalações em toda a Europa atingiram uma meta de 80% na semana passada.
Embora o gás russo ainda esteja fluindo para a Europa via Ucrânia em níveis reduzidos, analistas disseram que esses suprimentos também podem se tornar uma "vítima" do conflito.
"Estamos mudando o foco no caso do [gás] que continua a fluir para a Europa através da Ucrânia", disse James Huckstepp, analista de gás da Europa, Oriente Médio e África na S&P Global Platts, em um post no Twitter, acrescentando que é "apenas uma questão de tempo" antes que a Europa enfrente essas interrupções.