Liberação de armas fortalece organizações criminosas
"A gente tinha conseguido avançar no controle de armas e munições com o Estatuto do Desarmamento, que foi desmontado. E isso produz efeitos que são muito ruins para a segurança pública em geral, porque fortalece as organizações criminosas", afirma à Sputnik Brasil, citando que as milícias e facções criminosas se beneficiam do acesso facilitado às armas.
"É muito importante que a gente consiga lidar com mais seriedade nesse tema, regulando o mercado de armas, trazendo para a frente as questões relativas à fiscalização, à concessão de porte e posse de armas — tudo o que foi desregulamentado nos últimos anos", aponta.
Encarceramento em massa provavelmente continuará
"Isso tem se mostrado um verdadeiro celeiro de recrutamento de jovens para a criminalidade organizada. As pessoas são presas, em quase 40% dos casos provisoriamente, antes do julgamento e por crimes que são de menor potencial ofensivo, mas dentro das prisões acabam sendo arregimentados para trabalhar nesses grupos e passam a conviver com uma situação desumana. [...] Tudo isso me parece que enfraquece as instituições de Estado e fortalece os grupos criminais no Brasil", aponta Hirata.
"[Lula deve resgatar] a política que ele fez ao longo de 2003 até 2010, com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, talvez o Ministério da Segurança Pública sendo criado — um tipo de visão policial que não modifica o papel do encarceramento, que não modifica o papel da ação policial. Entretanto pensa em uma ação combinada com ações sociais", aponta.
Política de contenção dos homicídios é necessária
"Deve haver uma construção de políticas efetivas e direcionadas para a contenção dos assassinatos, que ocorrem de forma oficial ou não oficial e cujos alvos estão na população jovem negra. Não dá para a gente desconsiderar esse perfil das pessoas que morrem no Brasil, isso é muito importante para que a gente avance", avalia o pesquisador Daniel Hirata, que ressalta que políticas que reconheçam essa situação não só podem reduzir esses indicadores, como também fortalecer a legitimidade do Estado de direito.
"Esse quadro seria agravado exponencialmente na medida em que este caminha para o excludente de ilicitude, que é uma carta branca para qualquer ação policial legal — formal ou informal. É uma carta branca para os milhares de vigilantes armados, da [mesma] maneira que é uma carta branca para os guardas municipais armados", avalia.
"Isso porque há uma crença — que não se sustenta em dados e evidências — de que a brutalidade e a violência policial são caminhos efetivos para o enfrentamento das milícias e dos grupos armados em geral, e na verdade não são", aponta o pesquisador.
"Quando há uma escalada mais dura com relação ao enfrentamento ao crime, nós temos um aumento desses grupos. É isso que o Mapa dos Grupos Armados tem demonstrado", afirma.