A prisão e, depois, a libertação de dois soldados ligados à Embaixada da França no Mali levantaram muitas questões no país, sobretudo com relação aos rumores de espionagem francesa, que circulam há algum tempo entre as autoridades malianas.
Os dois soldados da embaixada francesa em Bamaco foram presos na última quinta-feira (15), informa o Libération, enfatizando que não foram apresentadas acusações formais contra eles.
Embora o incidente tenha terminado com os soldados em liberdade, o episódio marca mais um atrito nas relações entre os dois países, após dez anos de operações francesas na região para combater o terrorismo.
Os dois homens foram vistos tirando fotos perto de um campo de futebol. Segundo a embaixada francesa, eles tinham como missão atualizar um plano de evacuação de cidadãos franceses em caso de emergência.
"Por razões de segurança, dois cidadãos franceses detidos e inicialmente suspeitos de espionagem foram libertados. As verificações necessárias foram feitas", disse uma fonte diplomática do Mali.
A embaixada e o consulado da França fecharam temporariamente após o incidente, esclarecendo que a atividade realizada pelos soldados franceses foi "rotineira". De acordo com o Libération, os soldados franceses no Mali gozam de proteção diplomática e nunca deveriam ter sido parados e revistados.
Tensões diplomáticas
Esse episódio ilustra mais um caso de tensão entre Paris e Bamaco nos últimos meses. No fim de janeiro, o embaixador francês foi expulso do Mali após críticas às autoridades malianas.
Além disso, Bamaco acusa Paris de ter fornecido armas e informações a grupos terroristas durante sua intervenção militar, além de promover crimes de guerra e esconder valas comuns.
O porta-voz do governo, o coronel Abdoulaye Maiga, prometeu recentemente apresentar provas disso ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele também acusa a França de incitar o ódio étnico no Exército maliano.
A França, por sua vez, retirou do país os últimos soldados da Operação Barkhane em meados de agosto. A retirada das tropas foi ordenada em 17 de fevereiro pelo presidente da França, Emmanuel Macron, após diversos atritos políticos com a junta militar que governa o Mali.