"Sem barulho ou dor. Também no olho direito, minha visão estava turva. Fiquei gravando, liguei para meus colegas, e descobrimos que a ferida sangrava muito. O olho também sangrava. Tirei os óculos escuros e encontrei uma perfuração", detalhou, acrescentando que o acessório salvou a sua visão.
"Ninguém nunca me pediu papéis ou me perguntou se eu tinha que pagar. Para mim é uma experiência viva de que a saúde pública, que não depende de quem você é ou de quanto dinheiro você tem, onde prevalece a humanidade, e não os negócios, é um dos legados mais importantes do sistema soviético e ainda vigora nesta república. Aliás, o mesmo hospital em que fui tratado também foi alvo de ataques de artilharia. Um deles eu mesmo cobri, e fiz uma reportagem do local com os restos de um míssil ucraniano caído, no portão da maternidade."
"A costela salvou o pulmão, e os óculos escuros, o olho. É muita sorte, não é? Portanto é inevitável pensar no que poderia facilmente ter acontecido e o que de fato acontece com muitas pessoas todos os dias em Donetsk: que elas não têm a mesma sorte e os estilhaços as matam. Pessoas andando com sua sacola de compras, uma menina saindo da aula de dança, uma cozinheira fazendo o almoço para as crianças, uma mulher caminhando para o lado, ela esqueceu alguma coisa e parou, uma senhora vindo do trabalho. São pessoas que eu vi e das quais fiz relatos na época. Por isso o meu pensamento se dirige sempre a essas pessoas, que se tornaram alvos fáceis de aniquilar impunemente. Acho que isso tem a intenção de criar terror, forçar a população a deixar suas casas, sentir-se permanentemente ameaçada. Todas as pessoas nesta cidade sabem que quando você sai, é provável que não volte. Por isso, ao consultá-las, praticamente todas exigem mais vigor na operação militar", finalizou, acrescentando que os ataques têm o objetivo de "matar o maior número de pessoas possível".