As ações dos EUA contra os fabricantes de veículos elétricos sul-coreanos, bem como a "discriminação" efetiva contra a indústria, apesar das promessas de apoio financeiro, "provocaram repercussões emocionais e políticas", revelou o ministro do Comércio do país, Ahn Duk-geun, em entrevista ao Financial Times (FT).
Washington prometeu anteriormente apoiar a indústria sul-coreana de veículos elétricos, mas a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês) recentemente adotada excluiu a gigante automotiva do país, a Hyundai, que vem construindo novas fábricas nos EUA, a partir dos subsídios aplicados aos veículos elétricos recém-comprados. O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou anteriormente um investimento de US$ 5,5 bilhões (cerca de R$ 28,4 bilhões) nas fábricas de baterias EV e EV da Hyundai durante sua viagem à Coreia do Sul, em maio.
"O próprio presidente Biden disse 'muito obrigado, presidente [da Hyundai] Chung, não vou decepcioná-lo' — essa foi a declaração exata, e foi amplamente divulgada na Coreia [do Sul]. Então, quando essa nova lei foi promulgada e assinada pelo presidente Biden, [ficou claro que] essa empresa estava sendo discriminada", disse Ahn Duk-geun.
O governo dos EUA tem buscado maneiras de aumentar a produção doméstica de chips e veículos elétricos em meio a interrupções na cadeia de suprimentos e aumento da concorrência com a China. A produção de veículos elétricos é considerada especialmente importante para a agenda verde de Biden. No entanto, os carros da Hyundai não vão desfrutar do crédito fiscal de US$ 7.500 (cerca de R$ 38.695) que pode atrair potenciais compradores até que sua fábrica seja construída em 2025, de acordo com a lei.
Ahn Duk-geun disse ao FT que a lei, que impede que créditos fiscais sejam aplicados a carros elétricos produzidos fora dos EUA, Canadá ou México, "causou grandes problemas" para a Hyundai, que estava tomando a decisão de construir uma fábrica nos EUA em um ambiente de mercado diferente do esperado. O ministro do Comércio disse que Seul ainda não decidiu como responder e se vai tentar resolver o problema por meio da Organização Mundial do Comércio.
"Não queremos agravar o problema adotando medidas de retaliação semelhantes. Mas nunca se sabe, se a situação ficar muito séria, também somos flexíveis", disse ele.
O ministro explicou que os EUA reconheceram o problema e estão trabalhando com a Coreia do Sul para tentar "minimizar os danos", mas ainda não houve resultados.
Ao mesmo tempo, a Coreia do Sul também está lutando para lidar com outra restrição imposta pelos EUA que afeta a economia do país – a exportação de tecnologia de chips, disse Ahn Duk-geun. No cerne do problema, a proibição dos EUA à venda de chips avançados para a China e à fabricação de tais chips lá. Mas as empresas coreanas têm instalações de semicondutores construídas na China e acabaram sendo afetadas pela mudança.
"Nossa indústria de semicondutores tem muitas preocupações sobre o que o governo dos EUA está fazendo nos dias de hoje", disse o ministro.
Ahn Duk-geun apontou ao FT que a política recentemente promulgada e instituída pela Lei de Chips dos EUA proibiu os beneficiários do financiamento de Washington, como empresas sul-coreanas de semicondutores, de expandir suas capacidades de fabricação de chips na China por dez anos. O ministro explicou que o principal problema é uma zona cinzenta entre a fabricação de chips de baixo custo que não foi afetada e a fabricação de chips de alta qualidade na China, que preocupa autoridades dos EUA. Ele observou que era difícil distinguir qual tecnologia de nível intermediário estava sob as limitações impostas por Washington a seu aliado.