Discurso na ONU e presença em Londres refletem busca por projeção
"É possível pensar que Bolsonaro esteja projetando seu capital político para além das fronteiras nacionais para que isso volte como capital político domesticamente e para que ele se mantenha como uma força política a partir de 2023, em uma eventual derrota eleitoral", avalia.
"É preciso ficar atento a essa estratégia de o Bolsonaro sair, a menos de duas semanas da eleição, em uma agenda internacional para justamente continuar com o mesmo discurso negacionista, de ódio, enfim, para mobilizar domesticamente sua base eleitoral e para projetar internacionalmente o Bolsonaro como líder da extrema-direita na América Latina e no mundo", afirma.
Posição sobre a Ucrânia reflete orientação tradicional do Itamaraty
"Defendemos um cessar-fogo imediato, a proteção de civis e não combatentes, a preservação de infraestrutura crítica para assistência à população e a manutenção de todos os canais de diálogo entre as partes em conflito [...]. Não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções unilaterais e seletivas, contrárias ao direito internacional", disse Bolsonaro.
"É difícil dizer se o Bolsonaro realmente acredita nessa postura, mas essa é uma postura muito tradicional da diplomacia brasileira, que sempre se pautou pela solução negociada dos conflitos. [...] É uma posição pragmática, porque, como se sabe, a guerra vem atingindo sobremaneira os países emergentes, países do sul global, no que diz respeito ao aumento do preço da energia, do gás, dos alimentos. E isso tem um impacto muito grande nos países de renda média, como o Brasil", afirma.
"Apesar de todas as ingerências de Bolsonaro, de seu estilo mais truculento de governar, o Itamaraty consegue, de alguma forma, impor alguns parâmetros, algumas balizas para ação da política externa brasileira em situações críticas, como no caso do conflito russo-ucraniano", conclui.