A maioria dos institutos de pesquisa, como Datafolha e Ipec, apontavam
uma possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais do Brasil. A previsão não se confirmou. Pelo contrário. O que se viu
foi uma nova onda conservadora, com diversos candidatos apoiados pelo atual presidente, Jair Bolsonaro (PL),
ocupando postos importantes na República.
O cenário para o candidato do Partido Liberal, entretanto, ainda o coloca como o perdedor do pleito. No momento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou que haveria segundo turno, com 96,93% das urnas apuradas,
Lula tinha 47,85% dos votos válidos e Bolsonaro tinha 43,7%. Para Jorge Chaloub, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a "
tarefa de Bolsonaro é muito difícil".
O especialista apontou, em entrevista à Sputnik Brasil, que o atual presidente "está 4% atrás do Lula, e os outros [candidatos] somados dão 8%. Portanto ele precisa conquistar esses votos, ou virar votos do Lula, o que não é simples. O Lula está muito próximo da vitória. É preciso levar em conta que o Bolsonaro usou intensivamente a máquina pública e perdeu. São considerações a ser levadas em conta".
Apesar disso, para ele, a questão das vitórias pontuais dos candidatos alinhados ao bolsonarismo, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais — os três maiores colégios eleitorais do país — atesta "um cenário muito ruim para o Lula".
A questão das intenções de voto inclusive se tornou alvo de polêmicas e críticas nas redes sociais neste domingo (2). Em Brasília, após a votação, Bolsonaro chegou a dizer que havia vencido a mentira, em referência aos números indicados pelo instituto Datafolha para o primeiro turno. Para Carolina Botelho, pesquisadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, as discrepâncias das pesquisas devem fazer parte do debate público.
Ela explica que essa questão das intenções de voto tem impacto forte no segundo turno, assim como nas alianças que os candidatos devem montar tendo em vista as surpresas do pleito para cargos no Congresso e nos estados.
Para ela, deputados, senadores e governadores vão estar nos palanques políticos, e isso pode fazer a diferença. "De fato, o que posso afirmar é que quando um cara ganha no primeiro turno, isso se repete no segundo. Se isso vai se confirmar, não se sabe. Ganhar em Minas Gerais dá uma força grande para o [Romeu] Zema, assim como o Castro, no Rio de Janeiro", explicou.
Jorge Chaloub
analisou também os acertos na agenda política dos dois candidatos, que conduzem a polarização política no país lutando voto a voto pela preferência do eleitorado.
Para o especialista, Bolsonaro acertou ao radicalizar o discurso nas últimas semanas. Além de manter a sua identidade, diz, "isso mobilizou sua base para as eleições regionais, como no caso do deputado recém-eleito em Minas Gerais [Nikolas Ferreira (PL), o candidato a deputado federal mais votado do Brasil]. A radicalização se mostrou uma estratégia que deu certo".
Lula, por sua vez, no entendimento do analista político, "teve uma votação expressiva e ficou perto de ganhar no primeiro turno. Então a narrativa do Lula, esta campanha pela democracia, pela frente ampla, com [Geraldo] Alckmin e Marina [Silva], se tornou uma força que pode se ampliar mais no segundo turno".