"Minas Gerais é uma síntese do Brasil", indica o cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, ao comentar a importância do estado nas eleições presidenciais.
O resultado do primeiro turno de fato corrobora essa ideia. Enquanto o Nordeste deu uma vitória esmagadora ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — por 66,76% a 26,97% — e o Sul votou em peso no presidente Jair Bolsonaro (PL) — 54,56% a 36,78% —, Minas Gerais basicamente refletiu o resultado nacional. O estado preferiu Lula por 48,29% a 43,60%. No resultado geral, o petista teve 48,43%, contra 43,20% de Bolsonaro.
Urna eletrônica durante treinamento de votação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, em 5 de setembro de 2022. Foto de arquivo
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De acordo com o especialista, não é só nos números que o estado evidencia como representa as características do Brasil, já que, na prática, cada região do território mineiro sofre influência de uma parte do país.
O norte do estado, que envolve a região do Vale do Jequitinhonha, tem muitas similaridades com a Bahia, inclusive no sotaque e em hábitos culinários, relata Teixeira. Já o sul sofre grande influência de São Paulo, tem temperatura bem mais amena e vegetação diferente daquela do norte.
Na parte direcionada ao Centro-Oeste, o cientista político lembra que Minas contempla representantes do agronegócio na região do Triângulo Mineiro, com o maior produto interno bruto (PIB) do estado, impulsionado pela agropecuária, principalmente nas cidades de Uberaba e Uberlândia.
Além da capital, Belo Horizonte, e sua região metropolitana, com hábitos próprios, há ainda a Zona da Mata, área influenciada pelo Rio de Janeiro, onde se localiza Juiz de Fora.
"Dessa maneira, Minas acaba sendo uma síntese dos resultados nacionais, pois todas as áreas de influência estão dentro do estado", resume o professor.
Além disso, Minas tem grande peso eleitoral. O estado tem a segunda maior população do país, com 21,4 milhões de habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo, consequentemente, o segundo maior colégio eleitoral, só atrás de São Paulo.
Por isso ele acredita que se Lula vencer novamente em Minas, dará um grande passo para se eleger. Teixeira aponta que, se o Nordeste mantiver a distância a favor do PT e o estado de São Paulo, combinado à região Sul, repetir uma vitória de Bolsonaro sem muita ampliação da diferença, Minas é a peça-chave para um xeque-mate no tabuleiro eleitoral brasileiro.
"O grande desafio de Bolsonaro é tirar a diferença em Minas. Na medida em que ele venceu em São Paulo e Rio de Janeiro com boa margem, se tira a diferença em Minas e aumenta a diferença no Sul, vai tentar compensar o Nordeste em Minas", avalia o especialista.
O professor diz que a campanha do presidente tinha "boas expectativas" de tentar avançar sobre o Nordeste no segundo turno para diminuir a distância de Lula.
Porém ele analisa que, além de não conseguir apoio de peso nos estados nordestinos, Bolsonaro perdeu a chance de reduzir sua rejeição quando, na última quarta-feira (5), relacionou o analfabetismo ao apoio ao PT na região.
"Acabou falando bobagem, e essa bobagem pode lhe custar muito caro", indicou.
Na ocasião, durante transmissão de sua tradicional live nas redes sociais, o presidente afirmou que "onde a esquerda entra, leva o analfabetismo, leva a falta de cultura, leva o desemprego, leva a falta de esperança".
"Lula venceu em nove dos dez estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste", disse Bolsonaro.
'É estratégico todo o investimento em Minas'
Onde o presidente conseguiu apoio — e de grande destaque — foi exatamente Minas. O governador reeleito Romeu Zema (Novo) se manteve à margem da disputa nacional no primeiro turno, mas, após sua tranquila vitória de 56,18% a 35,08% sobre o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), aderiu à campanha de Bolsonaro, em importante apoio ao presidente no estado.
"Quem vai para uma disputa pau a pau em São Paulo e perde no Nordeste, se perder Minas, perde a eleição. É estratégico todo o investimento em Minas, e aí está a crença no Zema, reeleito com uma votação maior que a do Lula", afirmou o professor de ciência política da FGV.
Romeu Zema (Novo), governador reeleito de Minas Gerais. Foto de arquivo
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Ele explica que houve muito "voto casado" em Zema e em Lula. Por isso o governador preferiu se abster de opinar sobre a eleição à Presidência, para não perder eleitores.
Porém, agora no segundo turno, ele "vai se tornar o principal cabo eleitoral de Bolsonaro", aponta Teixeira.
"Já está fazendo esse papel. O Zema foi muito pragmático. Não apoiou explicitamente o Bolsonaro para não perder esse eleitorado que fez a opção entre Zema e Lula no mesmo voto. Se Minas tivesse disputa no segundo turno, ele estaria arregaçando as mangas, porque do outro lado estaria o Kalil com apoio do Lula", disse.