"Eu demorei muito para entender de forma cognitiva, intelectual, para ver de onde vieram as crenças, quem inventou o que, quem contou essa mentira. [...] Nesses anos eu passei sofrendo bastante. Esse movimento veio de uma necessidade de sair do silenciamento, de buscar respostas, e de uma intuição de que não era só eu que passava por isso. Eu demorei nove anos para conseguir falar do arrependimento materno para alguém e dez anos para realmente trazer esse assunto para a sociedade."
"No meu caso, o que me aconteceu? Eu entrei em contato com a realidade. E a realidade não é para mim. Eu não gostaria de ser mãe, mesmo. Não era para eu ter sido mãe, a minha personalidade não está para isso que é hoje ser mãe — que é a invisibilidade, que é, dentro de uma maternidade solo, casada ou não, você ter que dar conta da formação daquele cidadão, você durante muito tempo ter que abrir mão dos seus objetivos e das suas prioridades para ter que cuidar", declarou.
A atriz ressalta que o "arrependimento materno" está ligado à função de mãe, ao "job" materno, e não na relação com o sentimento com a filha. "A gente se doa, aquela pessoa nos ama e a gente tem amor por aquela pessoa. [...] A culpa nunca é da criança [...] e minha filha sabe que não é culpa dela", disse.
"Mães arrependidas não necessariamente não amam seus filhos, não cuidam deles ou não estão vinculadas a essa experiência, mas trazem a explicitação de um sofrimento materno que, talvez, muitas mães não possam falar, não se sintam autorizadas a falar ou se sintam muito culpadas em explicitar esse sentimento. O caminho para lidar com essa questão [...] está na desconstrução dessa idealização da maternidade e uma abertura para possibilidades de olhar várias formas de parentalidade que vão se construindo na nossa sociedade", aponta a psicóloga.