O documento já foi rotulado de "surpreendentemente esquizofrênico" pelo Instituto Quincy de Governança Responsável.
"O que é mais impressionante é que [o documento] apela que os EUA sigam uma política baseada na cooperação internacional pacífica, enquanto ao mesmo tempo prosseguem uma política de confronto militar com a Rússia e a China em oposição aos interesses de segurança nacional dos EUA", disse David T. Pyne, ex-oficial do Departamento de Defesa dos EUA e acadêmico da Força-Tarefa EMP.
"Estou convencido que, se a administração Biden realmente quisesse restaurar a paz e a estabilidade internacionais, poderia fazê-lo rapidamente, apelando a um cessar-fogo imediato e pressionando a Ucrânia a aceitá-lo cortando toda a ajuda militar, desde que a Rússia honrasse o acordo de cessar-fogo", observou ele.
Segundo Pyne, Washington teve uma oportunidade de facilitar a segurança europeia e formar uma relação previsível e estável com a Rússia, observou o especialista, referindo-se aos projetos de acordos de segurança da Rússia entregues aos EUA e à OTAN em dezembro de 2021.
No entanto, "a administração Biden rejeitou [os projetos] imediatamente, embora a aceitação de parte ou do todo provavelmente teria evitado a necessidade percebida pela Rússia de sua operação militar especial na Ucrânia para restaurar pela força o status de Estado-tampão neutro da Ucrânia anterior ao golpe de Estado de fevereiro de 2014", destacou ex-oficial do Pentágono.
Apesar de Biden ter repetidamente afirmado que se opõe a uma guerra direita com a Rússia, seu "conceito de confronto da NSS parece estar focado em potencial confronto militar com a Rússia na Ucrânia e com a China em Taiwan", de acordo com o acadêmico da Força-Tarefa EMP.
As ações da Casa Branca relacionadas à Ucrânia revelam muito sobre as intenções de Washington. No total, desde 24 de fevereiro os EUA já enviaram à Ucrânia US$ 16,8 bilhões (R$ 88,7 bilhões) em armas e outros tipos de assistência.
As "decisões tolas" da administração Biden "para aumentar a assistência militar dos EUA à Ucrânia e travar uma guerra por procuração contra a Rússia em oposição aos interesses de segurança nacional dos EUA" estão repletos do risco de escalada "para uma desnecessária Terceira Guerra Mundial entre a OTAN e a Rússia", salientou Pyne.
Além disso, o secretário de Estado Antony Blinken saudou o ataque sem precedentes aos gasodutos russos Nord Stream, dizendo que era "uma tremenda oportunidade" para a União Europeia (UE) acabar com sua dependência do gás natural da Rússia, apesar do fato de que milhares de cidadãos da UE podem gelar neste inverno, de acordo com Pyne.
Essas contradições óbvias levam Pyne a concluir que a avaliação pelo Instituto Quincy de Governança Responsável do documento como "surpreendentemente esquizofrênico" está certa.