Altos responsáveis africanos advertem que o continente de 1,2 bilhão de pessoas parece estar sendo ignorado em meio aos choques internacionais, escreve no sábado (15) a agência norte-americana Bloomberg.
"Estamos à mesa e cada vez mais, mas ocupamos um pequeno banco à mesa. Na maioria das vezes somos beneficiários de apoio, de ajuda, de recursos, em oposição a doador de recursos para o resto do mundo, e isso cria uma relação naturalmente desigual, mas devemos nos fortalecer e devemos ser ouvidos", disse no sábado (15) aos jornalistas Mthuli Ncube, ministro das Finanças do Zimbábue, após as reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
Em uma crítica aos países ricos, ele pediu que as entidades que apoiam o continente, incluindo instituições financeiras internacionais, ouçam aqueles que entendem melhor as condições locais.
"Não podemos esperar que a carga de desenvolvimento da África esteja sobre os ombros de instituições como o Banco Mundial e o FMI e assim por diante - seus níveis de recursos são muito pequenos em comparação com as necessidades", comentou Dier Tong Ngor, ministro das Finanças e Planejamento Econômico do Sul do Sudão.
"Há uma desarticulação entre o que recebemos destas instituições e o que será necessário para que o dinheiro do setor privado possa entrar e complementar o efeito do dinheiro público proveniente destas instituições. Essa é uma das questões que, esperamos, instituições como o Banco Mundial precisam ouvir com muita atenção e ajustar a maneira como fazem os negócios."
Patrick Njoroge, do banco central do Quênia, avisou que as crises internacionais afetariam as economias emergentes, enquanto Enoch Godongwana, ministro das Finanças da África do Sul, afirmou que os líderes africanos não têm grande fé nos países desenvolvidos e que o mecanismo de reestruturação da dívida do G20 precisa ser reformado.
A Bloomberg mencionou como ameaças as "agressivas" subidas das taxas de juro pelo Fed (Banco Central dos EUA) e a consequente valorização do dólar, que aumentam os custos do serviço das dívidas, e também dos preços de energia e alimentação, minando a capacidade de financiamento de certos países. Isso é particularmente nocivo na África Subsaariana, onde as inundações e secas estão aumentando as pressões de preços induzidas pela operação especial da Rússia na Ucrânia, sublinha.