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'O neonazismo é mais forte no Brasil do que a gente imagina', alerta especialista

O número de grupos extremistas e neonazistas no Brasil está em expansão, principalmente pela Internet. Surfando na impunidade e na onda de crescimento da extrema-direita, esses grupos têm virado alvo de ações policiais no país. A Sputnik Brasil ouviu especialistas no assunto que alertaram para a necessidade de se impedir e combater esse grupos.
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Na semana passada, a Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância de Porto Alegre deu início a uma investigação sobre a atuação de grupos neonazistas no Rio Grande do Sul. Conforme informou o portal G1, a polícia local monitora pelo menos 15 pessoas suspeitas.
Na mesma data, no estado de Santa Catarina, a polícia prendeu um grupo de seis jovens acusados de atividades neonazistas. O grupo teria ramificações em Florianópolis, Joinville e São José. A investigação teve início em abril, após a prisão de um homem por tráfico de drogas que guardava em casa bandeiras neonazistas.
Esses são apenas alguns casos de um problema que tem crescido no Brasil nos últimos anos. Um estudo elaborado pela antropóloga Adriana Dias, doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que estuda o tema há 20 anos, aponta um crescimento de 270,6% no número de grupos neonazistas no país em três anos, entre 2019 e 2021. Segundo o levantamento, há pelo menos 530 núcleos extremistas no Brasil — a maioria neonazistas — reunindo até dez mil pessoas.
O canal BielConn, com mais de 15 mil seguidores, compartilha fotos de soldados neonazistas ucranianos enaltecendo os símbolos do nazismo
Em entrevista ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, o jornalista João Werneck contou que passou quatro meses acompanhando grupos de extrema-direita nas redes sociais para a publicação de uma reportagem investigativa no site. Segundo ele, a atuação desses grupos é difusa, espalhada por diversas redes sociais e regiões do país. Entre os temas de ódio mais citados nesses grupos, o jornalista identificou apoios ao nazismo, ao racismo, à xenofobia e à homofobia.

"Tem gente ali que está esperando a fagulha acender. São pessoas perigosas. Não podemos deixar de dizer que são perigosas, porque são pessoas que estão ali atrás de alguma coisa. Elas não estão ali por acaso", afirmou Werneck durante a entrevista, acrescentando que o público desses grupos é predominantemente masculino e prega a realização de golpes e a instauração de ditaduras.

Após a publicação, o profissional conta que teve seu nome divulgado nesses grupos por pessoas insatisfeitas com a exposição. Para ele, apesar da preocupação com denúncias, os membros se sentem confortáveis no anonimato on-line. "Eles não têm medo, eles simplesmente sabem que é um movimento que não é combatido e, por não ser combatido, não pode ser parado simplesmente pela nossa vontade", aponta.
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Investigação da Sputnik revela quem são os neonazistas que assombram o Brasil

Defesa falsa da liberdade de expressão serve de escudo para extremistas

O sociólogo Leonardo Puglia, professor da Faculdade Católica Salesiana, de Macaé, conta, em entrevista ao Jabuticaba Sem Caroço, que suas pesquisas também identificam o crescimento desses grupos. O pesquisador atribui essa expansão ao crescimento da extrema-direita no Brasil e no mundo.

"Houve um crescimento, sim, nessa onda do crescimento da extrema-direita a nível global. Esse crescimento, no Brasil, se dá também escorado nesse discurso da liberdade de expressão, um discurso que a extrema-direita contemporânea — ou nova direita, como a gente tem chamado no Brasil — utiliza para escorar o discurso de ódio às minorias", afirma o pesquisador em entrevista ao podcast da Sputnik Brasil, lembrando que o direito constitucional à liberdade de expressão não dá margem para a apologia do nazismo, o que é crime no Brasil.

"Esse é o grande escudo que essa nova direita tem usado para avançar no Brasil nos últimos anos e tem conseguido", explica o professor, acrescentando que as ferramentas da Internet e do anonimato também estimulam o crescimento desse discurso.
Jabuticaba Sem Caroço
O crescimento de células nazistas no Brasil
Puglia explica que o discurso neonazista é utilizado por esses grupos para legitimar de alguma forma "os piores preconceitos", como o racismo. No caso do Brasil, contra negros e indígenas e, em algumas regiões, contra nordestinos. Segundo o pesquisador, as pessoas que frequentam esses grupos são principalmente jovens que têm contato com essa ideologia pela via do revisionismo histórico.

"Isso passa por um negacionismo histórico. Existem muitos desses autores neonazistas no Brasil que fazem um esforço não só de revisionismo histórico, mas de negacionismo histórico, do Holocausto, por exemplo", aponta.

Tatuagem de um dos soldados rendidos do neonazista Batalhão Azov, na planta siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, em 20 de maio de 2022
O pesquisador elogiou a reportagem publicada pela Sputnik Brasil denunciando grupos neonazistas no país. Para ele, é necessário ampliar a denúncia devido ao crescimento silencioso dessas organizações e do negacionismo.

"O neonazismo é mais forte na sociedade brasileira, especialmente no sul do país, do que a gente imagina. [...] É um problema que vai sendo construído longe do olhar do público. E aí, quando a gente se dá conta, cresceu demais e fica mais difícil de combater", afirma.

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