Na visão do general "não houve fraude na eleição", entretanto, ele acredita que "um dos jogadores" – fazendo referência ao presidente eleito Lula – não deveria estar concorrendo "ao jogo", mas ainda assim é preciso aceitar o resultado e "não adianta chorar".
"Aceitamos participar do jogo [eleições]. Não considero que houve fraude na eleição. Mas um jogador não deveria estar jogando. Essa é minha visão [...] nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador [Lula] não deveria estar jogando. Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo", disse Mourão em entrevista ao jornal O Globo.
Indagado se o silêncio do presidente, Jair Bolsonaro (PL), após a derrota teria ajudado a engajar os bloqueios nas estradas brasileiras efetuados por apoiadores, o general disse que "cada um reage aos acontecimentos da sua maneira e ele [Bolsonaro] está reagindo à maneira dele", mas que tais manifestações teriam que ter sido feitas "antes".
"Deveria ter sido realizado quando o jogador que não deveria jogar foi [autorizado a jogar]. Ali deveriam ter ido para a rua, buzinar. Mas não fizeram. Existem 58 milhões de pessoas inconformadas, mas aceitaram participar do jogo. Então tem que baixar a bola", afirmou.
Olhando para trás em uma espécie de balanço geral desses quatro anos, Mourão declarou que "teria falado menos" e que só estando no cargo para entender que o vice-presidente, dentro do sistema político brasileiro, "é um apêndice".
"O que aprendi é que você tem que entender qual o papel do vice-presidente. A Constituição diz que o Executivo é exercido pelo presidente e seus ministros. O vice-presidente é um apêndice. Tu só vai se dar conta disso quando vira efetivamente vice-presidente. [...] Acho que todos [os vices] se frustraram. Nos Estados Unidos, na Argentina, no Uruguai, o vice-presidente é também presidente do Senado. Acho que é uma mudança que seria boa aqui [...]."
Sobre a relação com Bolsonaro, a qual foi publicamente exposta como conturbada em alguns momentos, Mourão afirmou que o presidente "é um sujeito mais incisivo, mais verborrágico, e eu não sou. Minha forma de fazer as coisas é outra".
"Ele sempre foi deputado. Na Câmara, se você não se destaca pela peleia, é engolido. E o papel do Bolsonaro era meter o dedo nos outros. E ele continua fazendo esse papel. E eu nunca fui disso, eu passei dessa fase na minha vida. Eu nunca briguei com ele publicamente. Ele reclamava de mim, pô. É aquela história, eu tenho noção, né? No atacado nós temos o mesmo pensamento, mas a forma de fazer as coisas é outra", pontuou.
Na segunda-feira (31), o general começou o processo de transição de governo com o vice-presidente Geraldo Alckmin, conforme noticiado. No pleito deste ano, Mourão foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul com com quase 2,6 milhões votos.