Prevista para ter início nesta terça-feira (15), em Bali, na Indonésia, a
cúpula do G20 terá uma delegação brasileira esvaziada.
Recolhido ao Palácio do Planalto desde o fim das eleições presidenciais e com uma agenda oficial com poucos compromissos, o presidente Jair Bolsonaro
decidiu não comparecer ao evento. O vice-presidente, Hamilton Mourão, também não comparecerá, e o Brasil será representado pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos França.
O fato é inédito para a política externa brasileira. A cúpula do G20 reúne anualmente líderes das maiores economias do mundo e oferece a chance de encontros bilaterais para discutir acordos e parcerias. O próprio presidente Bolsonaro, ciente dessa importância, compareceu a todas as cúpulas realizadas desde que tomou posse, em 2019.
Havia uma expectativa da participação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que desde o fim das eleições vem abrindo diálogos com outras lideranças internacionais. Porém Lula também não participará do evento.
Para entender que motivos levaram Bolsonaro e Lula a ignorarem a cúpula do G20 e quais os impactos dessa representação brasileira esvaziada no evento, a Sputnik Brasil conversou com Danilo Bragança, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política Externa Brasileira (LEPEB) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Bragança destaca que o presidente atual do Brasil ainda é Jair Bolsonaro, por isso caberia a ele, não a Lula, a participação no evento. Segundo Bragança, a decisão de Bolsonaro de não participar reflete um "baixo interesse" por parte do chefe de Estado, mas a decisão pode ter sido a melhor neste momento pós-eleições.
"Pessoalmente, ele tem duas tentativas no ar: a primeira é se esvair, se esquivar do trabalho que teria na hora de participar desses fóruns internacionais. Ao mesmo tempo, ele transfere já para Lula uma responsabilidade que ainda não é dele", destaca o cientista político.
Na opinião de Bragança, a ausência do presidente brasileiro não envia necessariamente uma má sinalização ao cenário externo.
Bragança destaca que Lula poderia participar da cúpula, mas que essa decisão não cabe ao presidente eleito, pois seria necessário um convite formal.
"Efetivamente diferente do que está acontecendo na COP27 [Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2022], em que houve um convite direto e formal do chefe de Estado egípcio, que pediu para que Lula comparecesse, no G20 isso não ocorreu."
Questionado sobre se
a turbulência na transição de governo pode atrapalhar as relações do Brasil com outros países, o especialista descarta essa possibilidade e traça um
cenário otimista para a agenda internacional do Brasil nos próximos anos.
Bragança também afirma que do atual governo não será possível esperar muita coisa no que diz respeito à relação com outros países nessa reta final de gestão. No entanto, para ele, em contraponto, o governo eleito já está "se colocando como pauta".
"Então, o governo eleito, na prática, vai manter-se à sombra e sempre que convidado [para algum evento], poderá participar. Não há nenhuma ilegalidade nisso, nenhuma usurpação de poder, como já foi acusado. Convida-se o governo eleito [para eventos], isso já aconteceu em outros momentos. Até porque o perfil do governo eleito é diferente do [perfil do] governo atual", argumenta o cientista político.