De fato, na história, a Alemanha ergueu a Copa do Mundo quatro vezes, sendo a mais recente no Brasil em 2014, quando derrotou a Argentina pela diferença mínima com um time de jogadores misto, com vários deles da Turquia, Gana ou Tunísia.
Além dos alemães, Espanha, Inglaterra, Itália e França já se consagraram campeãs, juntamente com apenas três times latino-americanos: Uruguai, Argentina e Brasil, sendo o Brasil, o principal vencedor da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), com cinco taças de Copas do Mundo.
Apesar da supremacia numérica brasileira, a última vez que uma Copa do Mundo foi vencida por um país latino-americano foi há 20 anos, depois que a equipe comandada por Ronaldo, Roberto Carlos e Kaká derrotou a Alemanha de Oliver Kahn na Copa do Mundo da Coreia e do Japão em 2002.
Na final da última edição da Copa do Mundo, realizada na Rússia e disputada entre França e Croácia, quando a primeira prevaleceu, o jornalista mexicano Christian Martinoli arriscou uma ideia: a Copa do Mundo é um torneio em que todos participam e sempre ganham os mesmos.
A Sputnik conversou com os especialistas em esportes Juan Pablo Águila e Fernando Schwartz para investigar as razões deste cenário, antes da inauguração da edição do Catar 2022, onde o anfitrião enfrenta a seleção equatoriana.
'Europa, a Meca do futebol'
Águila considera que as dinâmicas de translado e organização transformaram o desenrolar do jogo. Por exemplo, no início das Copas do Mundo, na década de 1930, translados complicados poderiam favorecer os moradores e vizinhos do local da Copa, ressalta o especialista. Desta forma, o organizador do torneio e seus países vizinhos se beneficiaram: seus jogadores estavam menos cansados e mais concentrados.
Foi por volta da década de 1960 que o chamado "jogo bonito brasileiro" começou a se consolidar, o que permitiu a Pelé ser tricampeão com a camisa de seu país.
No entanto, a Europa sempre foi a Meca do futebol, uma dinâmica cujo mercado se fortaleceu desde o final da década de 1980 até hoje, destaca o especialista da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).
"Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha absorvem o melhor do mundo, o que tem concentrado o talento de todas as regiões do planeta nessa área e que, pela condição da comunidade, permite a exportação de jovens talentos europeus entre ligas, fortalecendo suas seleções", descreve. "Tanto que o último campeão sul-americano foi o Brasil, em 2002."
Schwartz explica a situação que permite a existência de um futebol de elite que mantém uma tradição de crescimento. No entanto, diz ele, ninguém está isento de longas sequências sem vitórias, como é o caso agora do Brasil ou Inglaterra, que só foi coroada uma vez, em 1966.
"Sim, o mundo das potências do futebol é muito marcado, mas acho que a cada vez eles vêm encurtando cada uma das distâncias", explica.
No campo, potências se perdem
A Inglaterra, insiste Águila, não vence há décadas. A Alemanha falhou na fase de grupos da edição de 2018 do torneio. A Itália não conseguiu nem se classificar para o Catar 2022 e, desde 2006, quando venceu o campeonato, não aparece. Isso significa que até o melhor derrapa, diz o especialista.
Embora a França seja a atual campeã do mundo, não possui uma das melhores ligas locais de futebol e seu artilheiro, Kylian Mbappé, é filho de um casal de imigrantes de Camarões e Argélia, lembra Águila, o que considera que, além da participação de países que são potências econômicas, o modelo esportivo é muito importante.
Schwartz estima que a força econômica dos países de origem desempenha um papel no desenvolvimento das capacidades esportivas das seleções nacionais. Além disso, diz ele, na Europa foi autorizado um passaporte comunitário que permite a mobilidade dos jogadores de atuar em diferentes cenários.
Para o especialista, apesar da influência econômica, o Mundial não deixa de ter surpresas, como aquela em que a Croácia foi vice-campeã do torneio de 2018, poucos anos após a fragmentação da Iugoslávia.
Fase eliminatória: zona surpresa
Apesar do fato de que apenas oito países foram coroados campeões na história, os torcedores de futebol lembram que equipes inesperadas muitas vezes chegam às oitavas de final. Desta forma, Senegal, Gana e Costa Rica, para citar algumas equipes, chegaram às quartas de final em diferentes competições.
A Croácia não é apenas vice-campeã da Rússia 2018, mas poucos anos depois de sua configuração como país independente, separado da República Socialista Federativa da Iugoslávia, conquistou o terceiro lugar mundial na Copa da França de 1998, após derrotar a então Holanda — hoje Países Baixos — por dois a um. Foi também a estreia croata nos feitos da Copa do Mundo da FIFA.
"O torneio coloca você na situação mais justa na fase de eliminação, uma única partida em campo neutro [com exceção do local]: em 90 minutos tudo pode acontecer. Isso foi demonstrado pela Costa Rica em 2014, liderando um grupo em que estava em terceiro lugar no mundial de 2010 e bicampeão do mundo, o Uruguai, além de Itália e Inglaterra, venceu a Grécia nas oitavas de final", reconhece Águila.
Schwartz concorda com essa leitura. "No final das contas, a bola está rolando e durante os 90 minutos tudo pode acontecer em uma Copa do Mundo. Basta um erro, uma distração, um pequeno toque, uma simples dose de acaso ou sorte é o que muda os resultados das partidas", lembra.
Daí também uma das maiores atrações da Copa do Mundo: nem a mais ambiciosa das especulações ou apostas, por exemplo, poderia prenunciar que a Alemanha expulsaria o anfitrião da Copa de 2014, o Brasil, e além da forma como o fez: imponente, com uma vitória de sete a um.
Um campeão mundial da África
O papel dos países africanos no futebol internacional é preponderante, já que seus filhos, de primeira ou segunda geração, aparecem com papéis de destaque nas melhores ligas do mundo.
Além disso, países como Argélia, Gana ou Senegal realizaram campeonatos competitivos. Na Copa do Mundo de 2014 no Brasil, por exemplo, o único time que conseguiu marcar dois gols na Alemanha, defendida por Manuel Neuer, foi o ganês. No entanto, não está claro se uma de suas equipes vai poder levantar a taça da Copa em breve.
O prognóstico de Eagle não é favorável. "É uma questão de gestão esportiva, planejamento e criação de um time com potencial de competição. Talento se destaca, mas raramente isso sozinho faz você chegar ao topo."
Portanto, diante da África, é provável que um país sul-americano vença novamente ou uma seleção da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf), à qual pertence a competitiva Costa Rica, bem como os robustos, mas profissionais Estados Unidos e México.
O jornalista Schwartz concorda que os jogadores africanos multiplicaram suas oportunidades nas ligas internacionais. No entanto, eles ainda não consolidaram uma força como seleções nacionais que sejam contundentes.
"Os africanos estão definitivamente jogando nas melhores ligas do mundo e isso também os fez crescer, mas obviamente a participação africana não é tão grande como a participação da Europa", destaca.