"A expectativa é que ele não consiga de fato terminar o mandato, que a qualquer momento ele vá cair, mais cedo ou mais tarde. Há duas possibilidades: há uma possibilidade de que isso aconteça por meio de uma moção de vacância ou aprovação dessa denúncia constitucional, ou uma outra saída seria uma saída negociada de antecipação das eleições, como já vem sendo ventilado há algum tempo", afirma o cientista político Jefferson Nascimento, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
"O conteúdo que está sendo julgado é bastante polêmico. Não há provas muito robustas sobre o que o presidente Castillo vem sendo acusado. De acordo com a Constituição, o Ministério Público só pode investigar um presidente em exercício em três situações: quando há fechamento do Congresso, quando há traição da pátria ou quando o presidente tenta impedir que as eleições ocorram. Nenhuma das seis acusações que a Procuradoria-Geral do MP apresentou contra o presidente pode ser de fato classificada dessas maneiras. E essa é a primeira vez na história que a Procuradoria-Geral investiga um presidente ao longo do seu mandato. Normalmente investigações contra presidentes ocorrem depois que o mandato termina. Além disso, a procuradora-geral vai além. Além de investigar o presidente utilizando uma investigação relâmpago, ela ainda acusa o presidente de cometer crimes e passa essa acusação para o Congresso votar."
"Os operadores políticos desses grupos dirigem o Congresso, mas não têm os votos necessários para retirá-lo da presidência da República e forçam interpretações caprichosas do que está estabelecido na Constituição", afirma.
"Dificilmente a situação e a oposição vão chegar a um consenso sem a mediação de algum ator externo. Por isso, de fato, a visita da OEA e a eleição de presidentes de esquerda na região, como [Luiz Inácio] Lula [da Silva] — que tem papel histórico de liderança e de mediação de conflitos — podem ajudar a uma saída negociada, mas dificilmente isso vai significar manutenção de Castillo no poder. Acho que essa crise de longo prazo, desde 2017, [...] [sinaliza que] o Estado peruano talvez tenha atingido o seu limite e acho que é preciso, de alguma forma, um processo de refundação do Estado. [...] E para isso é preciso um processo vindo da sociedade civil, e não imposto de cima para baixo."