O presidente francês denunciou recentemente o "projeto predatório" da Rússia no continente africano, mas quanta margem de manobra Paris tem para si mesma? O ensaísta e membro do movimento político Tous Pour La République (Tudo pela República), Nassirou Bodo Seyni, comentou a questão à Sputnik.
Segundo Bodo Seyni, a França sempre expressou esse sentimento quando outros parceiros quiseram trabalhar na África e afirmou ainda que "não é preciso dizer que Macron acredita que, como eles são predadores, todos os outros são".
"Ele acha que atacando a Rússia e outros parceiros na África, como a Turquia e a China, pode fazer a França 'subir novamente a ladeira'", apesar de Paris "perder influência em seus próprios espaços coloniais", afirmou.
À margem da cúpula dos países de língua francesa na Tunísia, Emmanuel Macron foi convidado a responder às críticas de que Paris explorou seus laços econômicos e históricos com suas ex-colônias para servir seus próprios interesses.
O presidente francês respondeu que "esta percepção [foi] alimentada [...] por outros", por "influenciadores pagos pelos russos".
"Você só tem que ver o que está acontecendo agora na República Centro-Africana ou em qualquer outro lugar para ver muito claramente o projeto russo que está funcionando lá quando a França é empurrada. É um projeto predatório", disse ele.
'Herdeiros' da 'Escravidão'
O ensaísta nigeriano também questionou a afirmação de Macron de que nem ele nem a juventude africana jamais experimentaram colonização. "Se ele apresenta essa ideia, isso significa que o presidente 'não tem consciência histórica'", disse Nassirou Bodo Seyni.
"Temos uma memória [...] e somos todos, como africanos, como ele é francês, frutos desse passado, seja um passado glorioso, seja um passado escravocrata. Somos todos herdeiros deste passado, que devemos compreender plenamente."
Quando uma pessoa nasce em 1980, seus pais podem ter vindo "da colonização", explicou o especialista. Fazendo um paralelo, lembrou que Macron "nasceu numa França, que se beneficiou [e] ainda se beneficia dessa colonização e que [...] saqueou a África do ponto de vista das riquezas naturais, do ponto de vista cultural, que destruiu e desconstruiu a África em seus fundamentos estruturais básicos".
Segundo Bodo Seyni, seria útil para o chefe de Estado da França "trabalhar sua consciência histórica, especialmente das relações franco-africanas", em nome de "parcerias que gostaria de estabelecer com os africanos".
Soberania Respeitada
Comparando a atitude de potências como China, Rússia ou Turquia em relação à África, a França não tem respeito pelo continente, argumentou.
"Independentemente do que se possa criticar [desses poderes internacionais], eles mostram respeito pela soberania de nossos países, pela humanidade do povo africano. [...] Isso não significa que eles sejam perfeitos, existem alguns problemas no nível deles, mas eles nunca nos desrespeitarão", concluiu Bodo Seyni.