Os EUA têm instado outros países a se juntar a Washington em apoio ao território autogovernado de Taiwan após a cúpula do G20 em Bali, Indonésia.
O Relatório do Poder Militar da China, publicado na terça-feira (29), falou de diferentes "opções" das campanhas militares da China continental com Taiwan, de "um bloqueio aéreo e/ou marítimo a uma invasão anfíbia em larga escala para apreender e ocupar algumas de suas ilhas próximas ou todas as de Taiwan".
O documento visa formalizar a estratégia dos EUA após a visita a Taiwan de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes americana, e a da vice-presidente Kamala Harris às Filipinas.
Mesmo sem valor prático, os especialistas o veem como um instrumento para assegurar que os legisladores votem por uma maior presença militar do país na Ásia-Pacífico para continuar pressionando a China, incluindo através da possível colocação de infraestrutura militar e armas dos EUA, incluindo mísseis de médio alcance, no sul das Filipinas, o ponto mais próximo do território de Taiwan.
Para Aleksandr Lomanov, vice-diretor do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais E. M. Primakov da Academia de Ciências da Rússia, o relatório não se dirige apenas aos políticos americanos.
"O exagero americano de qualquer ameaça a Taiwan por parte da China tem como objetivo atrair aliados para um possível conflito, procura influenciar aqueles que estão indecisos a mudar para o lado americano o mais rápido possível, simplesmente para criar nervosismo e incerteza naqueles que não estavam e não vão mudar para o lado dos EUA", opinou à Sputnik. Ele destacou os membros dos grupos Quad e AUKUS como aliados principais na provocação de novas tensões com a China.
"[...] Depois de uma nova esperança de que os Estados Unidos se comportariam de forma sensata, não provocariam a China, não gerariam focos de tensão, houve um incidente com um navio americano no mar do Sul da China. Os americanos decidiram usar esta plataforma [o G20] para lembrar a China de sua hegemonia", acrescentou ele.
O acadêmico sublinhou que não há "consensos importantes" ou acordos que possam remediar uma situação em que os EUA consideram a China um adversário estratégico. Agora, a única coisa que se pode tentar é formar uma fórmula de interação que impeça um conflito direto, diz.
Já Li Fei, diretor do Centro para o Desenvolvimento Pacífico das Ligações do Estreito de Taiwan na Universidade de Xiamen, China, acredita que os EUA não conseguirão ter sucesso com a "carta" de Taiwan, da mesma forma que falharam com as anteriores.
"O principal objetivo dos EUA é complicar a situação na região", afirmou Li à Sputnik. Ele citou casos nos últimos quatro anos como a guerra comercial, os distúrbios em Hong Kong, a "culpa" de Pequim pela pandemia da COVID-19, e a província autônoma de Xinjiang.
Atualmente, aponta o membro da Universidade de Xiamen, Washington está explorando as disputas entre a China e países vizinhos, com o Japão e com a Índia, no mar do Sul da China, a disputa entre as duas Coreias, e também colocando fogo no conflito do estreito de Taiwan.
O especialista explica que o crescente potencial industrial e influência da China estão levando os EUA a "alistar" outros países nessa luta, no Ocidente, e até a própria comunidade internacional.
"Entretanto, se a abusarem, a carta de Taiwan também se tornará um fantoche. Os Estados Unidos são cautelosos a este respeito, mas, de qualquer forma, eles perderão o mecanismo de pressão em Taiwan, da mesma forma que seus planos de desestabilizar Hong Kong falharam", concluiu Li Fei.