O gigante asiático iniciou o desenvolvimento da sua moeda digital em 2014. As etapas mais ativas, pelo menos anunciadas publicamente, começaram em 2019, a partir desse ano, inicializaram os testes ativos do yuan digital.
As autoridades chinesas anunciaram que a moeda teria a mesma liquidez e soberania que o yuan em dinheiro, funcionando em um blockchain centralizado e assim permitindo ao regulador controle total sobre a emissão e circulação dessa criptomoeda. Outro diferencial, é que ao contrário dos sistemas de pagamento móvel, a moeda digital chinesa também pode ser usada na ausência de uma conexão com a Internet.
Posteriormente, Pequim deu um passo adiante na popularização de sua moeda digital: o Banco Central da China lançou sua própria carteira móvel disponível para todos os cidadãos chineses, e as maiores operadoras de sistemas de pagamento móvel, Alibaba e Tencent, também integraram recursos de pagamento digital em sua interface.
Outra forma de impulsionar a moeda foi o oferecimento de uma nova atração para turistas conhecida como "dia sem dinheiro". Guias chineses mostraram aos visitantes estrangeiros como poderiam pagar diversas atividades apenas usando pagamento móvel.
Um expositor conversa com um visitante perto de uma máquina de venda automática que usa e-CNY, uma versão digital da moeda chinesa Yuan, em um banco no setor de serviços financeiros da Feira Internacional da China para o Comércio de Serviços (CIFTIS) em Pequim, 1º de setembro de 2022
© AP Photo / Andy Wong
Atualmente, existem mais de 260 milhões de yuans de carteiras eletrônicas em operação, com um volume de transações superior a US$ 13 bilhões (R$ 67,8 bilhões). Os reguladores financeiros do gigante asiático afirmam que dois milhões de yuans em transações com a moeda digital chinesa foram feitas apenas durante as Olimpíadas de Pequim.
No entanto, especialistas dizem que na crescente população idosa da China, bem como em diferentes níveis de alfabetização financeira e renda, é improvável que ocorra uma renúncia total ao dinheiro.
O yuan digital ajudará a estabilizar as finanças globais?
O sistema financeiro global está se desestabilizando em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia e Pequim está expandindo os testes de sua moeda digital.
O sistema, baseado na hegemonia do dólar e no papel fundamental dos EUA nessas instituições globais, permite a Washington usar sua influência sobre outros países para alcançar, entre outras coisas, seus objetivos políticos. As sanções impostas à Rússia, incluindo a desconexão de vários bancos russos do SWIFT, aumentam o estado de incerteza para as empresas.
Liu Dian, especialista do Instituto de Pesquisa da Universidade Fudan da China, garantiu à Sputnik que o desenvolvimento de moedas digitais nacionais a longo prazo criará novos mecanismos para o comércio internacional e diversificará o sistema financeiro global centralizado.
Rublo digital em desenvolvimento e parceria Moscou-Pequim
No contexto da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, os EUA, a UE e outros países impuseram amplas sanções econômicas contra Moscou. A Rússia respondeu impondo suas próprias restrições: por exemplo, anunciou que pagará sua dívida externa em sua moeda nacional, também mudou as exportações de gás para rublos.
Todos esses fatores geram incerteza nos mercados financeiros mundiais tradicionais e os investidores buscam uma saída nos novos instrumentos financeiros.
Contudo, a inovação no campo das finanças com moedas digitais nacionais não está presente apenas na China, mesmo que seja o país mais avançado nessa empreitada, Moscou também está trabalhando em um rublo digital. O Banco Central da Rússia informou que alguns bancos domésticos já realizaram transferências experimentais de dinheiro usando o rublo digital.
É importante entender que a Rússia é o maior fornecedor de energia do mundo. Algumas regiões, como a UE, cobrem mais da metade de suas necessidades de gás natural com suprimentos russos. Como Moscou decidiu mudar para o rublo nos pagamentos de gás, a demanda por sua moeda nacional aumentará. Da mesma forma, a demanda pelo yuan aumentará se a participação da moeda chinesa no comércio bilateral entre o Estado russo e chinês aumentar.
Este é apenas um exemplo para ilustrar que a pressão máxima nem sempre é eficaz. Quanto mais restrições forem apertadas, mais países e agentes do mercado internacional recorrerão a métodos de pagamento alternativos ao dólar, alguns resultados já são evidentes.
Diferença entre criptomoeda e moeda digital
Criptomoedas e moedas digitais nacionais têm mais diferenças do que semelhanças. Criptomoedas são ativos financeiros digitais, enquanto uma moeda digital é a contrapartida de uma moeda fiduciária nacional, com a mesma legitimidade e soberania, apenas expressa na forma de código digital. O que essas duas inovações financeiras têm em comum é o uso da tecnologia blockchain, contudo, o mais importante, é que tanto as criptomoedas quanto as moedas digitais nacionais estão sendo desenvolvidas para fornecer aos países e indivíduos novas opções de pagamento.
Pagamentos internacionais
No contexto dos pagamentos internacionais, nunca foram utilizadas moedas digitais, uma vez que não são tidas em conta as criptomoedas tradicionais descentralizadas. No entanto, há razões para acreditar que, com os mecanismos tecnológicos adequados, as moedas digitais também permitirão pagamentos transfronteiriços quase instantâneos.
É por isso que os especialistas costumam dizer que as moedas digitais são uma ameaça direta ao domínio dos EUA nos mercados mundiais e um afastamento do sistema financeiro global centrado no dólar.
No entanto, é importante que o uso do yuan digital seja confortável, confiável e lucrativo. Liu Ying, especialista do Instituto Chongyang de Pesquisa Financeira da Universidade Popular da China, disse à Sputnik que, por enquanto, ainda é mais fácil usar o dólar ou o euro para o comércio exterior.