"A condenação não é de seis anos de prisão. A condenação real é a inabilitação perpétua para cargos políticos eletivos. Quando todos os cargos a que acedi foram por voto popular", disse Kirchner em pronunciamento.
A vice-presidente afirma que está sendo condenada por "um Estado paralelo, uma máfia judicial" por conta dos seus triunfos eleitorais nos últimos anos, inclusive o de 2019, em que conseguiu reerguer o peronismo na chapa com Alberto Fernández em um momento em que não se esperava tal reviravolta.
"Eles me inabilitam por isso [os triunfos do kirchnerismo], digam o que quiserem dizer. E sabem que vou fazer a mesma coisa que fiz no dia 10 de dezembro de 2015. Lembro quando Daniel Scioli [seu então vice-presidente] me procurou para propor que eu fosse candidata a deputada para dar força à lista [eleitoral]. Não vou submeter a força política que me deu a honra de ser duas vezes presidente e vice-presidente a ser maltratada com 'candidato condenado', com 'inabilitação perpétua', com 'administração fraudulenta do Estado'", afirmou Kirchner.
A dirigente política, que foi vítima de um atentado há cerca de dois meses, reforçou a decisão de não concorrer às eleições de 2023 e, ao mandar um recado para o presidente do Grupo Clarín, Héctor Magnetto, desafiou a Corte Suprema.
"Eu não serei candidata. Aliás, ótimas notícias para você, Magnetto. Porque no dia 10 de dezembro de 2023 não terei foro privilegiado, não serei vice-presidente, então você poderá mandar seus capangas da Corte Suprema me prender, mas nunca serei seu animal de estimação. Não vou ser candidata a nada!"
A decisão é enxergada por apoiadores de Kirchner como mais um episódio de lawfare — perseguição judicial — contra lideranças progressistas da América Latina.
Cristina Kirchner condenada
A Justiça argentina condenou hoje (6) a vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner a seis anos de prisão e inabilitação especial vitalícia para o exercício de cargo público. Apesar da condenação, ela não será presa porque tem foro privilegiado.
Ela é acusada de "administração fraudulenta" e de ter beneficiado uma empresa privada em licitações de obras públicas na província de Santa Cruz entre 2003 e 2015, durante a sua passagem pela presidência e a do ex-presidente Néstor Kirchner (2003–2007).
De acordo com a acusação, a organização chefiada pela vice-presidente cometeu fraudes que tiraram US$ 1 bilhão (R$ 5,24 bilhões) do Estado argentino.
Ela nega as acusações e afirma que é vítima de uma perseguição política.
O advogado criminalista argentino Flavio Andres Garisoine disse à Sputnik que Kirchner pode concorrer à presidência apesar do veredicto, já que ainda não é definitivo, e ela tem o direito de apelar. A consideração da apelação de Kirchner levaria anos, disse o advogado, acrescentando que ela não seria presa imediatamente.