O Parlamento da União Europeia (UE) foi acusado de cultivar uma "cultura de impunidade", à medida que crescem os apelos para uma investigação completa sobre a corrupção e controles mais rígidos sobre os deputados.
Depois que a vice-presidente do Parlamento Europeu, a política grega Eva Kaili, foi detida junto com outras quatro pessoas no âmbito de uma investigação sobre um possível suborno, a organização não governamental Transparência Internacional denunciou e insistiu que não foi um "incidente isolado".
"Por muitas décadas, o Parlamento [Europeu] permitiu que uma cultura de impunidade se desenvolvesse, com uma combinação de regras e controles financeiros negligentes e uma completa falta de [ou, na verdade, qualquer] supervisão ética independente", disse o diretor da Transparência Internacional da UE, Michiel van Hulten.
Ele acrescentou que as tentativas de melhorar a prestação de contas foram bloqueadas pela mesa do Parlamento.
"Chegou a hora de uma reforma profunda. Como primeiro passo, a Comissão Europeia deve agora publicar sua proposta há muito adiada para a criação de um órgão de ética independente da UE com poderes de investigação e fiscalização", concluiu o grupo de campanha anticorrupção.
Por sua vez, o grupo dos Verdes no Parlamento Europeu exigiu uma investigação aprofundada, sublinhando que não iria "aceitar que tudo continuasse igual" porque os regulamentos já deveriam ter sido revistos há muito tempo.
A investigação diz respeito à corrupção e à lavagem de dinheiro em conexão com um "país do Golfo" suspeito de influenciar as decisões econômicas e políticas do Parlamento Europeu por meio de pagamentos em dinheiro ou presentes a altos funcionários, informou a promotoria federal belga.
"As buscas permitiram aos investigadores recuperar cerca de € 600 mil [cerca de R$ 3,3 milhões] em dinheiro. Também foram apreendidos equipamentos informáticos e celulares. Estes elementos serão analisados no âmbito das investigações", disseram os procuradores em comunicado.
Algumas informações na imprensa belga assumem que o país em questão era o Catar, e que a investigação estaria supostamente relacionada à Copa do Mundo realizada naquele país.
Desde que o Catar conquistou o direito de sediar a primeira Copa do Mundo em um país do Oriente Médio, foi forçado a enfrentar uma onda de críticas por vários motivos, desde seu histórico sobre os direitos das mulheres e pessoas LGBTQ+ até o tratamento dado aos trabalhadores estrangeiros. Antes do torneio, o emir do Catar, Sheikh Tamim bin Hamad Thani, chamou a campanha da mídia ocidental de "caluniosa", "fabricada" e "cheia de padrões duplos".
O dia das prisões, 9 de dezembro, foi o Dia Internacional Anticorrupção, designado pela ONU e também celebrado pelo Parlamento Europeu. A corrupção custa à economia da UE entre € 179 e € 990 bilhões (cerca de R$985,7 bilhões e R$5,4 trilhões) por ano, o que representa até 6% do produto interno bruto (PIB) do bloco europeu em receitas fiscais e investimentos perdidos, informa um documento publicado pelo Parlamento Europeu para celebrar o dia.