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Peru: antecipação de eleição não deve resolver crise, avalia especialista

A crise política que afeta o Peru gerou repercussões em outros países da América Latina. Para especialista ouvido pela Sputnik Brasil, a posição das lideranças regionais é importante para a construção de uma saída negociada para a profunda instabilidade que afeta o país há pelo menos cinco anos e que pode não ser resolvida com novas eleições.
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Em entrevista para o episódio do podcast Mundioka da terça-feira (13), o cientista político Jefferson Nascimento, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), fez uma avaliação sobre o complexo cenário peruano e disse acreditar que ele não se resolverá no curto prazo.
Cerca de duas semanas antes da aprovação da deposição do então presidente Pedro Castillo pelo Congresso peruano, Nascimento afirmou de forma categórica que a recente visita da Organização dos Estados Americanos (OEA) ao país não resolveria a crise peruana e que o presidente poderia cair "a qualquer momento".
A derrubada do ex-líder sindical peruano aconteceu depois de Castillo anunciar a dissolução do Congresso, a convocação de novas eleições e a realização de uma assembleia constituinte. A manobra, que tem previsão constitucional mas não seguiu o rito previsto, acabou fazendo com que os congressistas conseguissem formar maioria para destituir o presidente depois de duas tentativas frustradas em menos de 16 meses de mandato. Na terça-feira (13), Castillo acabou tendo prisão preventiva confirmada pela Justiça, que negou apelação apresentada pelo presidente.
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Na segunda-feira (12), os governos de México, Colômbia, Argentina e Bolívia emitiram um comunicado conjunto expressando "preocupação" com a destituição e detenção de Pedro Castillo e afirmando que ainda o consideram o legítimo presidente do Peru.
Para Nascimento, uma eventual solução da crise peruana passa por uma atuação internacional para a promoção do diálogo entre os setores do país, que já estão divididos há um tempo. Nesse sentido, o especialista avalia que a crise pode não ser resolvida com a antecipação das eleições anunciada pela presidente Dina Boluarte.
No discurso de posse, Boluarte disse que iria governar até o fim do mandato, em 2026. Com isso, começou a aparecer uma série de protestos em diferentes partes do país, que resultou inclusive em mortes. Depois propôs antecipar as eleições.

"Boluarte anunciou que vai antecipar as eleições para 2024. Se isso de fato vai servir para acalmar os ânimos, eu acho bem difícil. É muito provável que a instabilidade se mantenha no Peru, até mesmo depois das eleições. A gente percebe que a crise política não se instala no governo Castillo, está aí pelo menos desde 2017. E nesse tempo foram seis presidentes em seis anos."

"Não me parece que isso vai amenizar o cenário geral de instabilidade. Acho que a antecipação pode amenizar a situação agora, mas não vai ser isso que vai gerar estabilidade no longo prazo", reforçou.
Apoiadores do presidente deposto Pedro Castillo erguem cartazes pedindo a liberdade do ex-líder sindical, em Lima, no Peru, em 13 de dezembro de 2022
O analista, que integra o Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e o Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL) da UERJ, acredita que ainda é cedo para tentar prever o que virá das manifestações que abalam o país desde a deposição de Castillo.

Para ele, tudo vai depender "do grau de resistência desses manifestantes, do grau de violência com que a polícia vai combater esses protestos". "É difícil prever o que vai acontecer", destaca.

Conforme noticiou o jornal peruano La República, Boluarte avalia decretar um estado de emergência nacional em razão dos atos. A presidente também afirmou que busca a paz e não pretende endurecer a repressão contra os manifestantes. Até o momento, sete pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas em decorrência da ação das forças de segurança.
Esse cenário caótico reforça a posição das lideranças regionais. "É sempre importante ver o que os outros países estão falando, como estão analisando o que acontece no Peru", aponta Nascimento.
Nesse sentido, o especialista destaca a posição do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que tem se colocado como uma figura importante em todo esse processo.
Manifestante carrega cartaz em apoio a Pedro Castillo, presidente deposto do Peru, em Lima, em 9 de dezembro de 2022
Diante das negativas do Congresso em liberar viagens internacionais do presidente para participar de cúpulas regionais, Obrador trabalhou para adiar o encontro da Aliança do Pacífico e levá-lo ao Peru para garantir a participação de Castillo. Esse evento ocorreria nesta quarta-feira (14), mas acabou mais uma vez protelado em razão da destituição.

"O López Obrador vem se mostrando um aliado importante. Como Castillo não pôde viajar para a reunião de cúpula da Aliança do Pacífico — por não ter autorização do Congresso —, Obrador a adiou e propôs que a cúpula ocorresse no Peru para que Castillo não faltasse. O próprio Obrador fez um discurso muito severo contra a atitude dos congressistas peruanos", disse.

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