'Mais moderna aeronave de combate em operação na América Latina', diz especialista sobre Gripen NG
20:57, 26 de dezembro 2022
O Gripen NG, também conhecido como F-39, finalmente entrou em operação na Força Aérea Brasileira (FAB), na última semana. À Sputnik Brasil, analista de assuntos de defesa militar explicou como o novo caça coloca a FAB em uma posição privilegiada e por que sua chegada representa uma conquista para diversas empresas no país.
SputnikA chegada do Gripen NG significa a conclusão de um projeto que há anos é visto como uma espécie de joia da Força Aérea Brasileira. É com esse caça que a FAB pretende recuperar sua capacidade de defesa do espaço aéreo, em um entorno estratégico que abriga o americano F-16 do Chile.
Como apontou Marcos José Barbieri, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista no setor de defesa, "trata-se, sem dúvida, da mais moderna aeronave de combate em operação na América Latina".
Mas não é apenas o poderio dos novos Gripen NG, razão pela qual a FAB estuda adquirir mais 26 aeronaves por meio de outro contrato, que vem chamando atenção.
Enquanto as 4 primeiras unidades das 25 fabricadas na Suécia chegaram ao Brasil na semana passada,
as 15 últimas do primeiro lote de 40 caças serão construídas no país, representando uma oportunidade para qualificar
a indústria de defesa brasileira e reposicioná-la no cenário internacional.
Como explicou Barbieri, para se entender a importância desse projeto, semeado há 16 anos, é preciso compreender o que ele representa para o país, e não apenas para a FAB e sua missão de defender a soberania e as fronteiras brasileiras.
O caça mais moderno da América Latina
Por enquanto os Gripen NG ficarão em Anápolis (GO), mas o comando da FAB estuda distribuí-los por outras bases, de acordo com a necessidade operacional. Barbieri analisou o caça e explicou o que faz dele o melhor da América Latina.
"O ponto-chave que faz dele melhor é [...] [ser] uma aeronave que incorpora um conjunto de tecnologias militares que nenhum outro caça da América Latina é capaz de operar. Ele é um caça, um avião de combate e ataques, mas é multifuncional, como a maioria dos caças modernos", disse ele.
O analista destacou a modernidade do caça, dado que a versão Gripen NG foi completamente reprojetada a partir do modelo dos anos 1990, "com novas turbinas, estrutura, asas e painel".
20 de dezembro 2022, 06:53
Além disso, ela "incorpora grande parte das
tecnologias mais avançadas que existem na aviação, como radar, capacidade de operação supercruise (velocidades supersônicas por um tempo bastante elevado) e,
principalmente, armamentos como mísseis, bombas e foguetes".
Segundo a FAB, o avião pode receber mísseis ar-ar de curto e de longo alcance, mísseis ar-superfície e bombas guiadas por laser ou GPS para emprego contra alvos na terra e no mar. A carga em armamentos externos pode ser de até sete toneladas, para missões de defesa aérea, ataque e reconhecimento.
Nesse sentido, relembra Barbieri, é importante ressaltar as recentes aquisições da FAB no âmbito das capacidades de defesa, incluindo os modernos mísseis BVR Meteor e Iris-T, que podem ser posicionados embaixo das asas do Gripen.
1 de setembro 2022, 06:21
Segundo o analista de defesa, "é esse o conjunto de fatores que coloca essa aeronave em um patamar que poucos países no mundo atingiram". O Gripen NG inclusive "é considerado um caça da geração 4.5, com muitas tecnologias dos caças de quinta geração", como a sua capacidade de operar em rede.
"Isso significa que ele se comunica com outras aeronaves para operar em conjunto. Ele é capaz de ver o que o outro caça do seu esquadrão está vendo, mesmo a 30 km de distância. A transferência de dados é o que tem de mais sofisticado no mundo. Isso permite uma guerra em rede."
De acordo com o especialista, "por ser uma aeronave mais sofisticada", o Gripen NG pode ser usado em combates multifuncionais pois tem capacidade para ataques ao solo e a alvos estratégicos, como pontes e bases, e "incorpora as chamadas bombas inteligentes e armamentos para ataque naval contra navios".
22 de novembro 2022, 07:51
Vantagens para a indústria nacional
Segundo a FAB, o Gripen voará com sua
capacidade completa em 2025. Só então todos os sistemas da nova aeronave estarão integrados, testados e prontos para ser empregados em combate.
Esses sistemas, como aponta Barbieri, tiveram a participação de diversas empresas brasileiras no desenvolvimento de peças estruturais e de aviônicos, que é a eletrônica de bordo dos aviões, além de suporte logístico para a manutenção no Brasil.
Um deles foi o Wide Area Display (WAD), desenvolvido pela empresa AEL Sistemas, uma solução tecnológica que foi adotada pela Força Aérea sueca. Além das participações da AEL Sistemas e da Embraer, o analista destacou o trabalho feito pela Akaer, que "teve participação ativa na fuselagem".
O Gripen representou uma oportunidade porque, quando ele foi comprado da fabricante, a Saab, seu projeto ainda estava em desenvolvimento. "A Saab não tinha ele pronto. E os concorrentes dele, os caças F-18 Hornet (dos EUA) e Rafale (da França) tinham programas avançados e estavam voando", comentou Barbieri.
"O Gripen contribuiu para a Embraer e outras empresas no estado da arte [alcançarem essa] [...] tecnologia sofisticada, que passa a ser desenvolvida e incorporada por empresas brasileiras. Isso definitivamente pode ser usado em outras aeronaves e em outros produtos", disse ele.
"Houve de fato uma troca de tecnologia entre Brasil e Suécia" em alguns programas de desenvolvimento da aeronave, enfatiza Marcos Barbieri, apontando que a "engenharia de estrutura, que é o projeto estrutural da aeronave, inclusive a sua parte interna, isso foi feito no Brasil. Testes, certificação de aviônicos, tudo isso teve participação direta do Brasil no desenvolvimento da aeronave".
4 de dezembro 2022, 20:38