"Algumas economias se saíram melhor, outras pior, mas não creio que tenha tido nenhum tipo de abalo à instituição em si", avalia o pesquisador em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, acrescentando que a economia brasileira deve se destacar no grupo em 2023.
"O mais importante que tudo é olharmos sempre para essa associação como algo que vem cooperar e vem agregar com o desenvolvimento econômico dos países-membros. De maneira alguma ela vem como uma rivalidade ou para [se] opor ao que já existe hoje no mundo. As instituições precisam conversar e cooperar entre si", afirma.
"Os BRICS hoje, como nós conhecemos e pela sua diversidade, pelas características das suas nações, são muito peculiares, e os investimentos em defesa também são. As prioridades são muito diferentes, dos pontos de vista de defesa e de investimento em defesa, em um país como o Brasil e em um país como a Rússia, como a Índia, por exemplo", aponta.
'Reorganização do sistema' global marca ano emblemático para o BRICS
"A Rússia se destaca porque, apesar de todas as sanções e dos embargos que vêm sendo perpetrados, quem está pagando a conta maior em termos econômicos, sobretudo, é a própria União Europeia. Isso manda um recado bastante emblemático, bastante importante, porque se mostra que aquela ordem específica não é insubstituível [...], uma vez que a Rússia está conseguindo superar todo o conjunto de sanções que vêm sendo impostas a ela", afirma o pesquisador.
"Acredito que a partir deste ano, 2022, o que a gente viu foi um retorno maior. Há uma agenda multilateral dentro dos membros. Acredito que é nesse sentido que o BRICS assume o maior destaque, porque o que se observou foi uma grande sinergia no bloco em relação, por exemplo, às votações na ONU [Organização das Nações Unidas] e ao conflito na Ucrânia", afirmou.
"Acredito que 2022 seria a consolidação dessa tendência, porque essa tendência já vem se delineando há um bom tempo. Desde pelo menos o fim dos anos 1990, início dos anos 2000, porque os países do BRICS já se alinhavam em torno de um discurso de defesa da multipolaridade", aponta, acrescentando que esse processo é impulsionado pelos resultados do Consenso de Washington, pela globalização desigual e pela recente ascensão da China.
"Parece que houve um retorno do reconhecimento da importância do BRICS na política externa brasileira. [...] Acredito que houve um certo hiato de alguns anos e agora novamente tem um retorno. E ao que tudo indica, no próximo governo, do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, haverá novamente um incremento das relações dentro do BRICS, uma vez que o próprio presidente Lula foi um dos fundadores e grandes entusiastas da ideia", afirma.