Segundo o jornalista, quando Budapeste suspendeu o veto a um pacote de ajuda de € 18 bilhões (cerca de R$ 96 bilhões) planejado pela União Europeia (UE) para a Ucrânia, diplomatas e especialistas consideraram o gesto apenas como um alívio temporário em um relacionamento tenso entre a Hungria e a Ucrânia, acrescentando que profundas divergências entre os países poderiam "minar a capacidade da UE" de ajudar Kiev a enfrentar a crise.
"Os laços ucranianos no pensamento da Hungria sempre foram subordinados aos laços russos. Este ano eles também foram subordinados às negociações com a UE. A Hungria estava pronta para se livrar da ajuda à Ucrânia na ausência de um acordo da UE", disse Dunai citando o especialista em Rússia no Conselho Alemão de Relações Exteriores Andras Racz.
Além disso, na opinião do autor, a posição do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, sobre a Ucrânia depende em grande medida da opinião de Bruxelas sobre o desbloqueio de bilhões de euros em fundos de coesão para a recuperação de seu país após a pandemia de COVID-19.
"Quando a UE deliberar sobre essa decisão final, quaisquer questões que exijam um acordo unânime — como mais ajuda à Ucrânia — poderão mais uma vez ser mantidas como reféns pela Hungria, temem outros Estados-membros", disse ele.
A Hungria, continuou Dunai, está em uma situação precária desde o início do conflito. É "um dos países da UE mais dependentes do petróleo e gás russos e está envolvido em longas disputas com a Ucrânia, especialmente sobre os direitos das minorias étnicas húngaras".
A posição pode ser demonstrada pelas palavras de Orbán de que "uma Ucrânia independente e soberana é do interesse nacional da Hungria, [mas] não estamos interessados em dissociar as economias europeia e russa de uma vez por todas, então estamos tentando salvar o que podemos da cooperação econômica russo-húngara".
"Orbán está oferecendo abertamente rotas de fuga para os funcionários do Kremlin", comentou um alto funcionário da UE sobre a declaração do primeiro-ministro.
Além disso, Budapeste "bloqueou as ambições da Ucrânia de se aproximar da Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN], exigindo que ela restaurasse esses direitos das minorias".
"Em uma reunião de ministros das Relações Exteriores da OTAN realizada em novembro, a Hungria se opôs ao convite ao ministro ucraniano Dmitry Kuleba para as sessões oficiais [...] Os ucranianos também desconfiam da Hungria: 42% dos entrevistados em uma pesquisa recente viam os húngaros como hostis à Ucrânia. Kuleba afirmou na semana passada que as relações bilaterais não vão melhorar enquanto Orbán permanecer no poder", disse o jornalista.
Além disso, o jornalista citou um diplomata da UE, que afirmou que os laços ucraniano-húngaros são abaixo dos mínimos, são péssimos e que Budapeste "se volta para os russos, que os recebem calorosamente e lhes enviam gás". O fato de que a confiança mútua entre a Hungria e a Ucrânia está em um nível extremamente baixo também foi confirmado pelo analista de política externa de Bruxelas Botond Feledy.
Dunai resumiu que Orbán há muito esperava uma vitória russa, afirmando em julho que "os ucranianos nunca vencerão uma guerra contra a Rússia" e posteriormente acrescentando que a Hungria "não está pronta para o desligamento completo da Rússia que outros estão buscando agora".