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O que o Brasil tem a ganhar em parceria nuclear com a Argentina avaliada pelo novo governo?

Engenheiro nuclear consultado pela Sputnik Brasil enumera vantagens do possível acordo entre Brasil e Argentina e defende parcerias com "todos os países que dominam a tecnologia do ciclo do combustível nuclear".
Sputnik
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda uma parceria nuclear bilionária com a Argentina.
Durante o governo de transição, o grupo de trabalho de ciência e tecnologia deu os primeiros passos nesse sentido. Em reunião com a chefe do departamento de política da embaixada argentina, Cecilia Los Arcos, em dezembro do ano passado, a equipe de Lula discutiu o desenvolvimento conjunto de um reator nuclear.
Segundo o portal Metrópoles, duas possibilidades foram avaliadas durante o encontro. Uma seria o investimento direto do Brasil na tecnologia desenvolvida pela Argentina. Outra seria a construção de uma sociedade entre os dois países para o desenvolvimento do novo reator nuclear. Nos dois casos, o investimento brasileiro seria de aproximadamente R$ 1 bilhão.
Em um eventual acordo para desenvolvimento mútuo, o reator poderia ser produzido pela Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC).
Presidente da Argentina, Alberto Fernández (à esquerda) desembarca em São Paulo e é recebido pelo então recém-eleito presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, após sua vitória nas eleições presidenciais brasileiras, em 31 de outubro de 2022. Foto de arquivo
Após um período de afastamento entre Brasil e Argentina no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, as nações tendem a se reaproximar e a retomar pautas e projetos conjuntos com a chegada de Lula ao Palácio do Planalto.
Além da proximidade com o presidente argentino, Alberto Fernández, Lula sempre buscou, em seus outros dois mandatos (2003–2010), alianças com vizinhos do continente sul-americano, em linha com sua política de parceria com países do chamado Sul Global.
Como prova disso, já no fim deste mês, a primeira viagem internacional de seu terceiro mandato será justamente para a Argentina, com o objetivo de carimbar o retorno do Brasil à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).
A expectativa é que o presidente oficialize a medida em pronunciamento durante reunião do grupo, no dia 24, em Buenos Aires.
Em 2020, o governo Bolsonaro retirou o Brasil da CELAC, sob a alegação de que o grupo apoiava "regimes ditatoriais".
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Em entrevista à Sputnik Brasil, o engenheiro nuclear Aquilino Senra, professor da Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e ex-presidente da Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB), disse considerar "bastante positiva" a eventual parceria do Brasil com a Argentina no setor nuclear.
Ele lembra que atualmente o Brasil já está desenvolvendo dois projetos de reatores nucleares, o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) e o protótipo em terra de um reator nuclear para propulsão naval.
Do lado argentino, está em construção um reator nuclear de pequeno porte denominado Carem 25 (Central Argentina de Elementos Modulares). O modelo será o primeiro reator nuclear de potência totalmente projetado e construído na Argentina.

"Ou seja, os dois países já têm, no momento, boa experiência em projetos de reatores nucleares. Portanto a proposta do atual governo brasileiro de investir no desenvolvimento conjunto com a Argentina de um reator nuclear teria um resultado de ganho mútuo no campo da geração de eletricidade e de outras aplicações da energia nuclear", disse Senra.

De acordo com o especialista, a máquina brasileiro-argentina poderia ser um reator modular pequeno (SMR, na sigla em inglês).
O professor aponta que a iniciativa reforçaria a parceria entre as duas nações no setor nuclear. Segundo Senra, desde a redemocratização de Brasil e Argentina, os países iniciaram uma "etapa de convergência e integração nas relações bilaterais" que pode ser retomada a partir de agora.
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Brasil deveria buscar mais parceiros no setor nuclear?

O Brasil está à espera da autorização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para poder usar combustível nuclear em seu projeto do Submarino Convencional de Propulsão Nuclear (SCPN) Álvaro Alberto.
Criado a partir do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), a iniciativa multibilionária lançada em 2008 é considerada pela Marinha do Brasil o mais importante projeto tecnológico do Brasil na atualidade.
A medida do governo brasileiro segue movimento semelhante ao realizado, em 2021, por Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, por meio do pacto trilateral AUKUS, que visa permitir a licença para que Camberra possa adquirir submarinos nucleares.
Batismo e lançamento ao mar do submarino Riachuelo, considerado o mais moderno do Brasil, em Itaguaí (RJ)
Submarinos movidos a energia nuclear podem permanecer submersos e no mar por muito mais tempo e representam um desafio de proliferação atômica particular, pois operam fora do alcance dos inspetores da AIEA.
O projeto brasileiro significará prestígio internacional, já que apenas os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) — Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido —, além da Índia, detêm a tecnologia. Essas seis nações também já fizeram suas bombas atômicas.
Para Aquilino Senra, o Brasil precisa buscar mais parcerias para o desenvolvimento conjunto da tecnologia nuclear em todo o ciclo do combustível, "não apenas para construção conjunta de reatores nucleares".

"O ciclo do combustível nuclear é o conjunto de etapas do processo industrial que transforma o mineral urânio, desde quando ele é encontrado em estado natural até sua utilização como combustível, dentro de uma usina nuclear", explica o especialista.

Ele lembra que o ciclo do combustível nuclear envolve diversas etapas, tais como: mineração do urânio; conversão do concentrado em hexafluoreto de urânio; enriquecimento isotópico do urânio; reconversão do hexafluoreto em dióxido de urânio; produção de pastilhas de urânio enriquecido; fabricação do combustível nuclear; e geração de energia elétrica nos reatores nucleares.
Por isso ele afirma que "todos os países que dominam a tecnologia do ciclo do combustível nuclear poderiam ser parceiros". Porém "muitos deles praticam o cerceamento tecnológico e não devem ter interesse algum nessas parcerias", lamenta.
Assim como em outras áreas de interesse global, a expansão dos investimentos do Brasil no setor nuclear dependerá das habilidades do governo em política externa e da sua capacidade de alavancar a economia nos próximos anos para projetar o país como importante ator no cenário mundial.
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