"O Brasil, como o país mais importante da região, agora sob um governo progressista e de uma figura que é reconhecida como um estadista internacional, que é o Lula, pode reconfigurar as correlações de forças na região, a projeção da região a nível internacional e também a reorganização dos organismos regionais", afirma o pesquisador em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil.
"É impensável você imaginar espaços multilaterais de diálogo entre os países latino-americanos em que o Brasil, que é o principal país da região, não participa. Seria a mesma coisa a gente imaginar a União Europeia sem a Alemanha, por exemplo. Não funciona, simplesmente não funciona."
"A América Latina, para negociar com o mundo, precisa negociar de maneira unitária, conjunta. Se negociar país por país, [em] separado, seu poder de barganha é muito, muito diminuto. Se conseguir negociar de maneira coletiva com a União Europeia, com a China, com os Estados Unidos, ela tem muito, mas muito maior capacidade de resultados positivos do que [se] seus países negociarem separados. Então acho que com o retorno do Brasil abre-se uma grande possibilidade de a América Latina negociar em um patamar mais elevado com as grandes forças do mundo", afirma.
"Vamos lembrar que quando Bolsonaro vence em 2018 e anuncia o Paulo Guedes como ministro da Economia, uma jornalista argentina perguntou ao Paulo Guedes qual seria o lugar do Mercosul nas políticas econômicas do Brasil e nas políticas diplomáticas. Ele respondeu que nenhum, não é a prioridade. Não foi mesmo. A política do Brasil para o Mercosul durante o governo Bolsonaro foi não ter política. E com isso o Brasil, obviamente como a economia mais forte do Mercosul, desagregou completamente o bloco", afirma.
Diante de desafios, América Latina precisa buscar consensos
"Acredito que será muito importante a reabilitação da Unasul como órgão de discussão sul-americana para questões de defesa, para buscar um diálogo. Esse órgão [...] sempre serviu como um fórum para promover a estabilidade e a resolução de conflitos", afirma o pesquisador em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, acrescentando que o órgão enfrenta desconfiança dos Estados Unidos.
"Acho que esse é o grande desafio. Agora, a resposta, acredito que seja pela via do investimento público. Não somente pelo investimento público, mas em paralelo com condições para que os atores privados também possam fazer seus investimentos", aponta, lembrando que durante a pandemia de COVID-19 problemas de infraestrutura e produção industrial ficaram evidentes na região.
"O mais desafiador é criar formas de construir complementariedade do investimento que chega com os destinos onde esses investimentos são alocados, para que esse investimento possa ser duradouro, como investimento em infraestrutura. Isso mesmo que esses investimentos chineses, no caso, sejam investimentos que lidam muito com fornecimento de recursos com baixo valor agregado. É possível buscar novas formas de canalizar esses investimentos de forma que sejam dinamizados para criar um processo que chamamos de transbordamento", avalia.
Crise nas políticas locais: Colômbia, Peru e Chile
"Por parte do governo colombiano e do presidente Petro, a disposição é total. Acho que a paz na Colômbia, o que significa o desarmamento de todos os grupos em armas, tanto guerrilhas de esquerda quanto os grupos paramilitares de direita, é a principal bandeira do governo Petro, que por sinal tem sido muito bem-sucedido", destaca Santana, que também ressalta a reaproximação do país com a vizinha Venezuela.
"Com certeza o resultado vai ser muito mais enxuto, em termos de mudanças, de grandes transformações, do que seria com a primeira opção. O prognóstico do Chile, tanto para a constituinte quanto para o que resta do governo Boric, não é muito positivo para aqueles que veem a política a partir de um olhar mais popular", aponta.