Panorama internacional

Fragata russa com arma hipersônica virá ao Atlântico para mostrar 'força e dissuasão', diz analista

O governo da Rússia anunciou que uma fragata russa equipada com mísseis hipersônicos fará uma viagem que inclui uma passagem pelo oceano Atlântico. A Sputnik Brasil ouviu um analista geopolítico e militar para discutir o impacto dessa viagem e o eventual interesse brasileiro em tecnologias militares russas.
Sputnik
Na quarta-feira (4), o presidente russo, Vladimir Putin, participou da cerimônia de entrada em serviço da nova fragata russa Admiral Gorshkov, que tem capacidade de carregar mísseis hipersônicos Tsirkon.
Mais tarde, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, declarou que a fragata fará uma viagem pelos oceanos Atlântico e Índico com Tsirkon a bordo. A embarcação também deve passar pelo mar Mediterrâneo. Mais detalhes sobre a viagem não foram divulgados.
Nova fragata russa Admiral Gorshkov
Para discutir possíveis efeitos e motivos da viagem anunciada da nova fragata russa equipada com mísseis hipersônicos, a Sputnik Brasil conversou com Rogério Anitablian, analista geopolítico e especialista em assuntos militares.
Segundo ele, a viagem da embarcação tem um "caráter de demonstração de força e de poder de dissuasão", levando-se em conta a atuação constante "principalmente dos Estados Unidos" nos mares. Na avaliação de Anitablian, a viagem fará com que outros países "considerem de outra maneira" a tecnologia hipersônica russa empregada no míssil Tsirkon, sobretudo em um contexto no qual os EUA e seus parceiros realizam cada vez mais atividades militares perto das fronteiras da Rússia e também da China.

"O ponto fundamental aqui é que nós estamos observando movimentações políticas que indicam que russos e chineses aprofundam sua relação de cooperação. Os chineses têm a oferecer, além do seu potencial econômico, o seu conhecimento, seu know-how tecnológico na área de semicondutores, na área de hardware de um modo geral, para uma indústria de defesa russa que anteriormente estava muito dependente do que era ainda um cenário pós-soviético", afirma o analista em entrevista à Sputnik Brasil.

Os mísseis Tsirkon podem atingir velocidades de Mach 9, ou seja, nove vezes a velocidade do som — aproximadamente 2,65 quilômetros por segundo, o equivalente a 9,6 mil quilômetros por hora. O armamento tem a capacidade de voar a uma altitude de 20 quilômetros e a uma distância de mais de 1.000 quilômetros — um dos primeiros no mundo a conseguirem tais marcas.
Bandeiras russa e chinesa em mesa antes de cerimônia de assinatura no Grande Salão do Povo, em Pequim. Foto de arquivo

Aliança entre China e Rússia

O especialista aponta que a aliança com a China garante a Moscou a manutenção de seu desenvolvimento bélico. Dessa forma a Rússia, além de sua tecnologia e riqueza de matérias-primas, tem mais acesso aos recursos econômicos e à capacidade de incremento tecnológico dos chineses — por exemplo na área de semicondutores. Em troca, segundo ele, os chineses podem adquirir tecnologia militar.

"Essa nova aliança, vamos dizer, reorganiza uma situação e readequa uma posição que dá aos russos uma perspectiva de que não haja escassez em relação à sua possibilidade ou capacidade de adquirir ou repor material bélico", afirma.

Teste do míssil hipersônico Tsirkon

Brasil pode se beneficiar de parcerias com Rússia e China

Para Anitablian, o Brasil deve negociar com Moscou e Pequim a aquisição de tecnologias de defesa para garantir, entre outras coisas, a proteção da Amazônia e da costa brasileira. O especialista salienta que, para esses fins, a experiência chinesa no mar do Sul da China é relevante, assim como a tecnologia de defesa antiaérea da Rússia — especificamente os sistemas de mísseis S-400.

"Acho que o Brasil deve buscar uma cooperação tanto com a Rússia como com a China para aquisição de materiais visando as defesas aéreas e a proteção da costa brasileira — defesas aéreas mais especificamente no que diz respeito à Amazônia", afirma, acrescentando que a aquisição de mísseis como o Tsirkon dependeria de fatores mais abrangentes, como a própria adaptação da frota marítima brasileira.

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