O investimento em infraestrutura e a retomada de obras paradas pelo país é um dos principais e talvez o maior compromisso anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu terceiro mandato presidencial.
Já em sua
primeira reunião ministerial, Lula falou que pretende correr o país para identificar
obras paradas que precisam ser retomadas, bem como projetos de infraestrutura que precisam ser colocados em prática.
Porém o orçamento demasiadamente apertado herdado do governo anterior, que necessitou de uma ampla negociação para
retirar parte das despesas do teto de gastos, torna esse compromisso algo difícil de cumprir caso não seja encontrada uma nova fonte de financiamento.
Nesse sentido, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o chamado Banco do BRICS, pode ser de grande ajuda, como explica à Sputnik Brasil Carlos Eduardo Carvalho, professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, programa interinstitucional tocado pela PUC-SP, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Carvalho afirma que "além de reunir condições mais favoráveis, os recursos do NBD estão destinados mesmo a infraestrutura".
No entanto Carvalho destaca que os recursos não são muito fartos e que "talvez já tenham sido empenhados no período recente". Segundo ele, uma forma de ampliar os recursos seria incluir mais membros no agrupamento.
Carvalho aponta que a China é "a grande fonte de recursos", principalmente em infraestrutura, lembrando que Pequim já tem investido na América Latina. "Certamente está interessada em avançar nas relações com o Brasil", acredita.
Além disso, o professor avalia
novo potencial de parcerias com Índia e Rússia, dois países que voltaram a se aproximar após o início da
operação militar russa na Ucrânia. De acordo com o especialista, ambos os países "têm setores de alta tecnologia muito relevantes e interesses grandes no Brasil".
O professor ressalta ainda que a Índia enfrenta o desafio de avançar em parcerias que gerem mais segurança "frente ao peso crescente da China" e que a Rússia pretende explorar relações que "escapem do cerco pelos Estados Unidos".
"O poder de barganha e negociação do Brasil é importante, desde que o país tenha políticas claras ligadas ao nosso próprio desenvolvimento e autonomia", indicou.
Carvalho afirma que os membros do BRICS mantêm a liberdade na defesa de seus interesses particulares e que o grupo só se manifesta de forma clara em pautas consideradas unânimes ou que não incomodem nenhum deles.
Para além do BRICS, o especialista diz que o Brasil tem espaço para relacionamento com instituições como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Segundo ele, o peso geopolítico e geoeconômico do Brasil se ampliou com a instabilidade internacional e os conflitos entre EUA e seus agora dois inimigos a combater e cercar, China e Rússia. O especialista avalia que atualmente o país atrai muito interesse também devido a pautas ecológicas e ameaças climáticas.
"Nossas dificuldades são internas, vale citar duas: dificuldades para elaborar projetos consistentes e convincentes, pois temos uma tradição de projetos mal elaborados, que acabam parados ou atrasados, com orçamentos inconsistentes; e temos demonstrado grande dificuldade para propor projetos de atração de ajuda e investimento que se articulem com projetos de desenvolvimento de nosso interesse", afirma, acrescentando que há grande disponibilidade de recursos de investidores privados em busca de negócios rentáveis.