"Nosso protagonismo [internacional] se concretizará pela retomada da integração sul-americana, a partir do Mercosul, da revitalização da Unasul [União de Nações Sul-Americanas] e demais instâncias de articulação soberana da região. Sobre esta base poderemos reconstruir o diálogo altivo e ativo com os Estados Unidos, a comunidade europeia, a China, os países do Oriente e outros atores globais, fortalecendo o BRICS, a cooperação com os países da África e rompendo o isolamento a que o país foi relegado", disse Lula em seu discurso de posse.
"O grande inimigo externo dos EUA hoje é a China. E não só do governo Biden, essa é uma questão do Departamento de Estado, do Estado profundo, dos democratas e dos republicanos. Por isso o BRICS se torna um problema direto, mais do que a integração latino-americana, por conta da China — o grande inimigo — e da Rússia — por questões estratégicas e pela parceria firmada com a China. O desafio dos EUA hoje é o desafio chinês", afirma o especialista.
"Para os EUA, o BRICS é um problema central. É um problema de Estado. [...] A entrada da Rússia e da China no continente vai ser sempre combatida. A primeira coisa que os EUA olham hoje é para o BRICS, e por isso eles não podem deixar que o Brasil fique no BRICS."
"A América Latina está rachada. Tem vitórias de esquerda, mas são vitórias apertadas. Além do Brasil, [foi assim] no Peru, no Chile e na Argentina. A polarização selvagem está pegando também por aqui. Para os EUA não interessa uma América Latina unida, mas o outro lado, da extrema-direita, também não. A extrema-direita está fora de controle, e isso se reflete em toda a América Latina. A integração sempre vai ser um problema, mas agora é um problema menor."
"O cenário de hoje é muito diferente do de 2003. Em 2003 [o sistema-mundo] estava muito engessado. Tinha uma China que não tinha se mostrado para o mundo ainda e uma Rússia que estava sendo reconstruída pelo [presidente Vladimir] Putin. Em 2003 havia muito pouca flexibilidade no mundo. Hoje há um sistema que tem possibilidades. O Brasil deve saber pendular, não deve se voltar nem para um lado nem para o outro para buscar favorecer os interesses nacionais. Tem espaço para isso."