Apesar do cenário de caos político envolvendo apoiadores de Jair Bolsonaro e o próprio ex-mandatário, a sua legenda, o Partido Liberal (PL), não o deixou isolado e continuou ao seu lado. No começo do ano, mesmo quando o ex-presidente já estava nos Estados Unidos e recebia críticas por seu silêncio e distância, o cacique do PL, Valdemar Costa Neto, publicou um vídeo reiterando apoio ao ex-presidente e exaltando sua gestão.
Entretanto, parece que o jogo virou. Se antes a sigla tentava fazer de tudo para que o ex-chefe do Executivo fosse mais ativo como líder de oposição e voltasse dos EUA, agora, a percepção de aliados de Valdemar é que Bolsonaro deve ficar onde está e sua família igual a ele, bem distante da legenda. O motivo: o clã Bolsonaro estaria agindo nos bastidores para tentar se apropriar do comando do partido.
De acordo com a coluna de Bela Megale em O Globo, a insatisfação maior é com o senador Flávio Bolsonaro, apontado como nome favorito da família para ser o novo presidente da legenda.
Antes das invasões em Brasília no dia 8, a cúpula do PL avaliava que Bolsonaro deveria recuperar o capital político e se firmar como voz de oposição a Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, a leitura, segundo a mídia, é que o melhor para o capitão reformado e para o PL é que "ele fique longe e submerja".
Membros da legenda ouvidos pela mídia relataram que se sentiram traídos com o movimento, especialmente pela lealdade que Valdemar demonstra ao ex-presidente. Essa seria uma das razões apontadas por uma ampla ala da sigla que passou a defender a permanência dele na Flórida.
Inelegibilidade do ex-presidente
Até o momento, não foi definido quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai começar a julgar as 16 ações que investigam a campanha de Bolsonaro, mas aliados reservadamente já fizeram um mapa de votos com a expectativa em torno do voto dos ministros e acreditam que ele caminha para se tornar inelegível.
Integrantes do PL, adversários de Bolsonaro e até mesmo membros do TSE avaliaram para jornalista Malu Gaspar de O Globo que, possivelmente, o ex-mandatário será condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, o que o deixaria inelegível e impedido de disputar eleições pelos próximos oito anos.
No entanto, uma eventual derrota de Bolsonaro no TSE não marcaria o fim da batalha judicial para garantir seu direito de disputar as próximas eleições, de acordo com membros do seu partido.
Eles apostam que o ex-chefe do Executivo vai insistir em levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas mesmo assim acham pouco provável que tenham êxito no Supremo, alvo preferencial de incansáveis ataques do ex-presidente ao longo de quatro anos de mandato.