As Forças Armadas iranianas se preparam para estender sua presença ao canal do Panamá durante 2023, confirmou o comandante da Marinha iraniana, Shahram Irani, em janeiro.
Segundo Irani, Teerã não está presente em dois estreitos estratégicos do planeta, mas este ano pretende marcar presença em um deles: o canal do Panamá. Como os Estados Unidos poderiam receber esse ato?
Para o pensamento estratégico norte-americano, qualquer tipo de presença iraniana em águas latino-americanas pode ser interpretado como uma afronta em termos estratégicos, considera o especialista, que também é acadêmico da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).
"A hegemonia norte-americana está sendo desafiada em um momento em que América Latina se volta para a esquerda progressista", diz Moisés Garduño.
A possível presença do Irã em águas latino-americanas, aponta Garduño, teria razão de existir porque o país tem experiência em proteção de navios-tanque, principalmente de petróleo, no golfo Pérsico e no mar Vermelho.
"Isso, ao que parece, está sendo exportado para rotas que trazem algum benefício para o Irã, que, neste caso, tem que ser com a Venezuela e para isso tem que ir diretamente ao Panamá pela importância comercial que o canal representa", explicou o especialista.
A intenção de Teerã de se deslocar pelo canal do Panamá, explicou, envia uma mensagem de que é possível rondar pelas águas da América Latina.
Politicamente, disse o especialista, os Estados Unidos estão totalmente concentrados na Ucrânia, enquanto a América Latina precisa se aproximar de outras nações como a China, a Rússia e agora o Irã.
"O continente está buscando outra forma de conviver perante um vazio hegemônico [...]. É uma espécie de realinhamento geopolítico o que estamos vendo agora. A aproximação do Irã com esses países [da América Latina] faz parte desse realinhamento que estamos vendo há alguns anos", afirma Garduño, membro do Fórum de Pesquisadores do Mundo Árabe e Muçulmano.
Durante o discurso do comandante da Marinha iraniana na primeira Conferência Nacional de Civilização Marítima "O Caminho do Progresso", em Kenarek, Irani sublinhou a necessidade de aumentar o potencial militar da frota iraniana.
"Devemos fortalecer a presença militar em águas internacionais e hoje podemos dizer que, no primeiro lugar, não há problemas no campo científico que o impeçam", assegurou na conferência.
"Até agora, a Marinha iraniana tem estado presente em todos os estreitos estratégicos do mundo, exceto em dois. Já neste ano estaremos presentes em um deles, e agora estamos trabalhando na possibilidade de uma presença no estreito do Panamá [...]. Como disse nosso líder supremo, a Marinha é uma força estratégica, por isso estamos aumentando nossa presença em águas internacionais em diferentes lugares", concluiu.