Vladimir Putin nunca ameaçou a Alemanha ou sua liderança, disse o chanceler Olaf Scholz.
"Não, Putin não me ameaçou, a mim ou à Alemanha. Durante nossos telefonemas, nossas perspectivas muito diferentes sobre a guerra na Ucrânia ficaram muito claras", disse Scholz em entrevista à mídia alemã publicada neste domingo (5), quando solicitado a comentar as afirmações explosivas de Boris Johnson.
Scholz disse que deixou "muito clara" para o presidente russo a posição de Berlim, que Moscou era a única responsável pela crise ucraniana e que a Rússia supostamente lançou sua operação militar especial "sem motivo". "Não podemos simplesmente aceitar isso, porque é uma violação fundamental da ordem de paz europeia. É por isso que apoiamos a Ucrânia financeiramente, por meio de ajuda humanitária e também com armas", disse Scholz.
Os comentários do chanceler sobre a ausência de ameaças contra a Alemanha por parte da Rússia contradizem as declarações feitas por Johnson em um documentário que foi ao ar na semana passada, no qual o ex-primeiro-ministro disse que Putin havia dito a ele "Boris, não quero ferir você, mas, com um míssil, levaria apenas um minuto ou algo assim."
A tendência de Johnson de exagerar, embelezar ou mentir abertamente para os eleitores e parlamento foi um marco consistente de sua reputação em seu próprio país, com a mídia reunindo compilações de suas "piores mentiras, gafes e escândalos" após sua renúncia em desgraça no verão passado (no Hemisfério Norte).
O Kremlin ficou indignado com estas palavras sobre o "míssil", perguntando se as mentiras de Johnson foram conscientes ou inconscientes, e reiterando que o que Putin realmente disse a ele foi que, se a Ucrânia se juntasse à OTAN, "a colocação potencial de 'mísseis da OTAN' ou dos EUA perto das fronteiras russas significaria que qualquer míssil chegaria a Moscou em uma questão de minutos". Esses comentários parecem ecoar anteriores observações feitas publicamente por Putin e outras autoridades russas antes da escalada da crise ucraniana em fevereiro de 2022.
Tanques para a Ucrânia
Comentando a decisão da Alemanha de aprovar a implantação dos principais tanques de batalha Leopard 2 na Ucrânia, Scholz descartou as preocupações de Moscou de que a medida fosse um lembrete dos tanques Panzers alemães na Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial. O chanceler garantiu, em vez disso, que Berlim estava enviando "tanques de guerra para a Ucrânia para que os ucranianos possam se defender" e que todo carregamento de armas estava sendo "coordenado" com a OTAN e Washington para evitar que o conflito aumentasse, algo que o Kremlin refuta sob o argumento de que mais armas alimentam o conflito.
Scholz disse que há um "consenso" entre as potências ocidentais de que a Ucrânia não vai usar as armas fornecidas pela OTAN para atacar a Rússia.
Quanto à candidatura de ingresso da Ucrânia na União Europeia (UE), o chanceler disse que "todo candidato deve cumprir os critérios necessários", incluindo "questões do Estado de direito, democracia, respeito aos direitos humanos e luta contra a corrupção". Questionado se poderia haver algum tipo de consideração especial para Kiev à luz do conflito atual, Scholz reiterou que "os requisitos para ingressar são os mesmos para todos".
A Ucrânia tem enfrentado críticas, mesmo entre a mídia ocidental simpatizante, pelas decisões de seu governo de proibir quase uma dúzia de partidos políticos "pró-russos", consolidar o controle estatal sobre a televisão e a mídia impressa e instituir uma campanha de repressão contra a Igreja Ortodoxa ucraniana pertencente ao Patriarcado de Moscou. A Ucrânia sempre se classificou entre os países mais corruptos da Europa, com preocupações relacionadas à corrupção exacerbadas em meio a questões sobre para onde foram os mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 515,2 bilhões) em ajuda dos EUA e da UE a Kiev, e evidências de que as armas enviadas para ajudar a combater a Rússia acabaram nas mãos de gangues criminosas na Europa e em zonas de conflito distantes da Ucrânia.