Panorama internacional

Entre crises, 'identidade reativa' e 'inimigo comum', para onde vai a UE?

Nos 31 anos da União Europeia, especialistas avaliam situação política e econômica do bloco em meio à disputa geopolítica com Moscou liderada pelos Estados Unidos.
Sputnik
Há exatos 31 anos, em 7 de fevereiro de 1992, membros da comunidade europeia assinavam o Tratado de Maastricht, nos Países Baixos, e criavam a União Europeia (UE).
Mais de três décadas depois, o cenário geopolítico é outro. Em vez de um mundo pós-Guerra Fria favorável à expansão e à aglutinação de países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, há uma crise sem precedentes no bloco ocidental.
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As crescentes resistências ao chamado "globalismo" e ao avanço do protecionismo em países europeus já vinham, nos últimos anos, causando discordâncias internas sobre as decisões do Conselho da União Europeia. A crise econômica global, iniciada em 2008, combinada à crise migratória, fez a insatisfação aumentar e o Reino Unido votar a favor do Brexit para deixar o bloco europeu.
Agora, a partir da crise ucraniana, com diversos desdobramentos econômicos e políticos, ganham força questionamentos sobre a manutenção do tratado.
Para o professor de relações internacionais Christopher Mendonça, do Ibmec Belo Horizonte, as críticas à União Europeia são fenômenos naturais.

"Acredito que seja possível que outros países queiram sair do bloco. Mas é apenas uma possibilidade. A conjuntura internacional muda com frequência, e o cálculo racional precisa ser adaptado aos novos tempos", afirmou o especialista.

Arco na Praça do Comércio, em Lisboa, iluminado com as cores da bandeira da União Europeia, durante a presidência rotativa de Portugal do Conselho da UE. Foto de arquivo
Mendonça lembra que uma nova adesão no bloco europeu não significa automaticamente que o país permanecerá eternamente como membro. Ele aponta que mudanças políticas "podem gerar novas perspectivas para a política exterior" das nações europeias.
O professor de relações internacionais, porém, não considera que a "desintegração da Europa" seja algo provável para os próximos anos.

"A própria União Europeia foi gerada a partir de um acordo de cooperação entre a Alemanha e a França nos anos 1950 e se tornou um movimento muito mais profundo e abrangente nos anos posteriores. As crises de integração regional não significam necessariamente o fim desse arranjo, mas uma reorientação para atender às demandas atuais", explica.

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Vinícius Rodrigues Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), aponta que a crise atual, com baixo crescimento e inflação em alta, é decorrente do conflito na Ucrânia, do desabastecimento alimentar e das reações do Ocidente a produtos de energia russos.
Mas o especialista, por enquanto, não vê em curto prazo outros países cogitarem uma saída do bloco.
Além disso, Vieira aponta a existência de uma "identidade reativa". Segundo ele, o antagonismo ocidental à Rússia faz a UE apontar um suposto inimigo comum para justificar suas políticas econômicas.
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O papel do paymaster na crise

De acordo com Christopher Mendonça, do Ibmec, a Alemanha continua sendo o país com maior força no bloco europeu.

"Na literatura de integração regional, chamamos a posição alemã de 'paymaster', ou seja, o país que arca com os maiores custos do bloco e desfruta, também, de seus maiores benefícios", diz o especialista.

Por isso Mendonça acredita que mudanças na política doméstica alemã poderiam influenciar seu posicionamento frente ao bloco.
Já Vieira, da FAAP, diz que a Alemanha "foi a grande máquina de crescimento", principalmente após a criação do euro. Ele alerta que o bloco depende de Berlim para se sustentar e que uma piora da economia alemã provocará um baixo crescimento da zona euro. Porém, para ele, o impacto de uma crise alemã no bloco acaba sendo minimizado pela ideia do "inimigo comum".
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