Panorama internacional

NBC News: exigências de rígido programa nuclear da Marinha dos EUA está deixando militares doentes

Os operadores nucleares são considerados os "mais brilhantes" da Marinha americana, e apenas os com maior pontuação são aceitos no severo programa de treinamento. Entretanto, desde 2018, as taxas de suicídio e casos de pessoas com saúde mental abalada estão progredindo entre aqueles que aceitam o desafio.
Sputnik
Cerca de 3.000 pessoas são selecionadas anualmente para o rigoroso programa de quase dois anos no Comando de Treinamento de Energia Nuclear Naval (NNPTC, na sigla em inglês), onde se aprende a operar os reatores nucleares que alimentam submarinos e porta-aviões.
Para atrair pessoal, a escola da Carolina do Sul oferece vantagens de progressão na carreira no mundo civil e naval e promete os maiores bônus monetários que a Marinha norte-americana oferece dentro da força.
Mas o rigor e a exigência atingem níveis tão altos que, segundo a jornalista Melissa Chan da NBC News, cinco marinheiros e instrutores designados para a escola morreram por suicídio desde 2018, incluindo um em outubro, e houve outras 24 tentativas de suicídio no mesmo período. Segundo a Marinha norte-americana, essa taxa de tentativas e suicídios é maior do que a média nacional.
Entretanto, os números por si só podem não captar a amplitude da luta de alunos e instrutores do programa nuclear com sua saúde mental. De acordo com a jornalista, professores, alunos e seus parentes relataram que os marinheiros com treinamento nuclear, muitas vezes evitam o aconselhamento e mascaram suas batalhas com o severo treinamento por medo de obter um diagnóstico de saúde mental que os levaria à expulsão.
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O programa acadêmico nuclear é "amplamente reconhecido" como o mais exigente nas Forças Armadas dos EUA, diz a própria Marinha em seu site. Além de passar cerca de 45 horas por semana em sala de aula – dominando assuntos como física nuclear e engenharia – os alunos podem ser obrigados a estudar por mais 10 a 35 horas por conta própria.
Marinheiros com treinamento nuclear passam a maior parte do tempo abaixo do convés, dentro de salas de máquinas escuras e usinas de reatores, onde muitas vezes trabalham em turnos de mais de 12 horas, veem pouca luz do dia, têm menos folga e se sentem isolados do resto da tripulação.
"Que tempo eles têm para cuidar de seus assuntos pessoais ou se distrair do trabalho? [...] A compaixão da cadeia de comando está faltando no Departamento Reator. O fator humano às vezes não entra em ação", declarou Douglas Bainbridge, um eletricista de primeira classe que lecionou na escola citado pela mídia.
Um dos casos de suicídio aconteceu com John Paul Fritz, de 29 anos, que na época estava a sete meses de seu casamento quando se suicidou em 8 de janeiro de 2019. Sua noiva, Mikaela Dalke, relatou que notou uma mudança em seu comportamento depois que ele se tornou instrutor do Treinamento de Energia Nuclear Naval.
"Foi uma mudança estranha. Quando ele estava na escola, eu o via quase todas as noites, mas não era a mesma coisa. Ele não era o mesmo", afirmou.
Fritz, que ingressou na Marinha em 2009, costumava dizer a Dalke como era difícil estar no campo nuclear, tanto quando ele estava estacionado no USS Florida, às vezes fazendo turnos de 48 horas no submarino, quanto quando ele estava na escola, diz a mídia.
De 2018 a 2022, o NNPTC teve uma média de 150 tentativas e 31 suicídios por 100.000 pessoas, de acordo com uma análise da NBC News com os dados fornecidos pela força marítima.
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Problemas de saúde mental também foram observados em outros comandos da Marinha. Quatro marinheiros designados para o Mid-Atlantic Regional Maintenance Center – que mantém navios militares e está sediado em Norfolk, Virgínia – morreram por suicídio com semanas de diferença em outubro e novembro, relata a mídia.
Hoje, a força oferece US$ 38 mil (R$ 198 mil) para recrutas nucleares em serviço ativo – seu maior bônus de alistamento – bem como milhares de dólares em pagamentos anuais adicionais apenas por ser uma bomba nuclear, e até US$ 100 mil (R$ 521 mil) para alguns que se alistarem novamente.
De acordo com dados da força, das 3.000 pessoas que são aceitas no programa de treinamento nuclear a cada ano, cerca de 2.700 o concluem.
A Marinha disse em comunicado à NBC News que fez investimentos significativos em recursos de saúde mental na escola nuclear, especialmente após um esforço dedicado em 2018 para tirar o estigma dos problemas de saúde mental e aumentar a disponibilidade para ajudar.
Há uma dúzia de profissionais de saúde mental no local e vários outros recursos disponíveis a uma curta caminhada, disse o tenente Andrew Bertucci, porta-voz da Marinha, à mídia.
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